Artigo de Marlene Fengler, Secretária-Geral da ALESC

Você sabia que, pela primeira vez na história da humanidade, seis gerações estão convivendo ao mesmo tempo no planeta? Essa realidade inédita muda tudo: as famílias, o mercado de trabalho, a economia, a política. E é justamente sobre esse novo tempo que pesquisadores e especialistas vão debater nesta semana, no Festival Conecta, em São José. Eu também estarei presente e este convite me fez refletir muito sobre um tema urgente: a longevidade e o enfrentamento ao etarismo.
O Brasil, que durante décadas se enxergou como um país jovem, já tem mais de 37 milhões de pessoas acima dos 60 anos. Até 2050, o planeta abrigará 2,1 bilhões de idosos. Não é futuro distante. É presente. O aumento da longevidade é uma das maiores transformações sociais e econômicas do século XXI. Se por um lado revela conquistas — mais saúde, mais tempo, mais qualidade de vida —, por outro escancara desafios que ainda não estamos preparados para enfrentar.
Estamos prontos para apoiar trabalhadores mais maduros? Nossas cidades oferecem acessibilidade real? O sistema de saúde conseguirá responder à pressão do envelhecimento populacional? Infelizmente, ainda engatinhamos nessas respostas. Enquanto países como Japão e Alemanha já reformularam a previdência, adaptaram a mobilidade urbana e criaram políticas consistentes de inclusão para os mais velhos, no Brasil o etarismo — preconceito contra a idade — segue afastando ainda como uma barreira invisível, que limita a participação dos mais velhos no mercado de trabalho, nas decisões e até mesmo no convívio social. Combater o etarismo é abrir espaço para que a experiência e a sabedoria que vêm com o tempo sejam reconhecidas como ativos fundamentais para a sociedade. A longevidade não deve ser vista como problema. É uma conquista que precisa ser bem administrada. A chamada economia prateada já movimenta cerca de R$ 2 trilhões por ano no Brasil e impressionantes US$ 15 trilhões no mundo. É um mercado em expansão, que abrange saúde, previdência, habitação, mobilidade, turismo, cultura, consumo, tecnologia e serviços, mas, mais do que números, estamos falando de dignidade: de garantir que viver mais também signifique viver melhor.
Falar sobre envelhecimento, longevidade e economia prateada é falar sobre todos nós. É repensar políticas públicas em saúde, previdência, educação continuada e inclusão digital. É reconhecer que envelhecer faz parte da vida e que o futuro é cada vez mais prateado. Quanto antes compreendermos isso, mais preparados estaremos para transformar a longevidade em qualidade de vida e oportunidades para todas as gerações.