Diz a lenda que o ex-secretário municipal de Turismo, Cultura e Esporte, Ed Pereira (União Brasil) fez de tudo para conseguir autorização para um evento esportivo no auge da pandemia do coronavírus. Na época, felizmente, o bom senso e as autoridades de saúde teriam prevalecido.
Quando falo em lendas nos meus textos, são histórias que circulam pelos bastidores, mas que não consegui (ou são impossíveis de) comprovação que me permita postar em detalhes. Mas as histórias circulam. Nesse caso, era um chiste sobre ignorância e negacionismo.
O fim do sigilo sobre o processo derivado da Operação Presságio e a decisão do juiz Elleston Lissandro Canali de manter o afastamento de Ed e de Fábio Braga (PSD, Meio Ambiente) do secretariado do prefeito Topázio Neto (PSD), trazendo indícios claros de corrupção em eventos que passavam pela mão do ex-secretário, apontam a possibilidade de que aquela lenda tivesse como pano de fundo mais do que a mediocridade do investigado.
Mas vamos nos ater aos autos – e aos aúdios. Os supostos esquemas investigados pela Polícia Civil e chancelados pela promotora Juliana Padrão Serra de Araújo, do Ministério Público de Santa Catarina, mostram indícios claros de desvio de recursos destinados eventos diretamente para Ed, sob o pretexto de pagar contas atrasadas da mal-sucedida tentativa dele em se eleger deputado federal em 2022 – ficou com a terceira suplência do União Brasil.
Até as pessoas em situação de rua abrigadas na estrutura da prefeitura na Passarela Nego Quirido seriam utilizadas em um improvisado esquema de cobrança irregular de estacionamento em lugares públicos – e com máquina para receber pagamentos em crédito ou débito. Quem ouviu todos os áudios diz que é estarrecedora a gula por desviar recursos em todas as miudezas possíveis.
Em sua decisão, o juiz Elleston Lissandro Canali definiu os secretários afastados como “supostos membros de organização criminosa”. A operação investiga crimes ambientais, corrupção e lavagem de dinheiro por parte de Ed Pereira, sua mulher Samantha Brose e Fábio Braga.
O áudio interceptado da conversa entre Renê Raul Justino, ex-diretor de Projetos na Fundação Franklin Cascaes e um empresário de Florianópolis deixa claro como funcionaria o esquema – uma espécie de rachadinha em eventos.
- Vamos supor que é 150 (mil), tá ligado? 75 (mil) para a realização do evento, 75 (mil) para o Ed. (Com) 75 (mil) para a realização do evento, dá para realizar o evento, pagar todo mundo e sobrar uma grana massa pra ti. Porque ele tá pagando a dívida de campanha. Ele vai pagar a gráfica, que era 20 pau (mil) a gráfica, e vai jogar 50 pau (mil) para o cunhado dele, que ele deve 300 pau (mil) para o cunhado dele.
(ouça o áudio)
São diversos aúdios e um processo robusto. Nos bastidores, aqueles mesmos em que as lendas se propagam, Ed já é tratado como fusível queimado. No União Brasil, seu nome deixou de ser citado como possível vice na chapa de Topázio Neto – a bola da vez é o vereador Junior Mamá.
Na prefeitura, o entorno de Topázio trabalha para blindá-lo. A controladoria interna auxilia as investigações, nomes que surgem no inquérito são exonerados, aliados se mostram indignados com a suposta volúpia do ex-companheiro de time. Os espaços, é claro, vão sendo reocupados por nomes mais próximos ao prefeito atual – repararam como o Carnaval estava mais leve este ano?
A Operação Presságio começou investigando por que a empresa de coleta de lixo contratada emergencialmente para atuar durante uma greve da Comcap recrutava funcionários para atuar em Florianópolis antes mesmo da paralisação dos funcionários da autarquia. De posse do material apreendido na deflagração, em janeiro, outros temas entraram no jogo.
Está claro que a Pressário vai se estender e ramificar como uma Lava-Jato manezinha. Topázio e seu entorno terão que ser muito habilidosos para que ela não seja um problema na campanha eleitoral.
Foto – Ed Pereira em seu Instagram registrando a preparação para o último Réveillon de Florianópolis. Crédito: Reprodução.