A segunda visita do presidente Lula (PT) a Santa Catarina em seu terceiro mandato, quinta-feira, em Itajaí, pode ser analisado pelo olhar político-eleitoral, pelo olhar econômico ou pelo olhar da relação entre a União e o Estado. Sem desmerecer nenhum deles, é muito relevante para Santa Catarina ver o Porto de Itajaí atuando e com perpectivas de investimentos públicos e privados no horizonte – o belo horizonte da foz do Rio Itajaí-Açu, sempre bom ressaltar.

Por isso, importante que o presidente Lula tenha vindo ao Estado no dia seguinte à chegada do imponente navio da BYD trazendo 7 mil automóveis da montadora chinesa de automóveis eletrificados. O petista trouxe boa parte de seu time principal, ministro Fernando Haddad (PT), da Fazenda, à frente. Wesley Batista não terceirizou a fala da JBS, operadora do porto público desde o ano passado, e também anunciou no palco investimentos bilionários.
O ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho (Republicanos) anunciou investimentos do governo federal de quase R$ 850 milhões em obras que vão melhorar a capacidade de recepção de navios de maior capacidade – um sonho não apenas da margem de Itajaí, mas também de Navegantes, onde opera o Portonave.
Silvio Costa Filho também anunciou uma medida adminstrativa que encerra a tola discussão sobre o Porto de Itajaí estar sob tutela do Porto de Santos – medida administrativa de transição ao final da concessão que entregou, nos anos 1990, a autoridade portuária à prefeitura de Itajaí. Uma medida provisória assinada por Lula vai criar a Autoridade Pública de Itajaí, estatal autônoma.
Talvez a criação de uma estatal em meio à discussões sobre cortes de gastos e aumento do IOF não caia bem no Congresso Nacional, que precisa validar a MP presidencial, mas essa é outra conversa – que merece um bom debate. Nos últimos meses, os designados por Santos para cuidar do porto catarinense vinham sendo elogiados em ambas as margens pelo profissionalismo.
A MP vai precisar de empenho e articulação política para passar. Uma coisa é certa: a autoridade vinculada Pa prefeitura é passado. O modelo até deu bons frutos iniciais, ao longo do tempo acabou se tornando mais um lugar para vereador indicar cabos eleitoriais e isso teve sua parte nos problemas que o porto enfrentou.
Da mesma forma, a edição da MP e a indicação anterior de João Paulo Bastos Gama como superintendente do Porto de Itajaí, mostra a disposição do ex-deputado federal Décio Lima – presidente estadual do PT e do Sebrae nacional – de capitalizar politicamente as possíveis conquistas do porto federalizado. Sem prefeituras de médio ou grande porte no Estado, o PT terá no Porto de Itajaí sua grande vitrine no Estado.
Aí voltamos ao palanque, onde o governador Jorginho Mello (PL), ausente, foi chamado de “ingrato” pelo ministro Silvio Costa Filho (o que pensaram os Republicanos de SC?) por não reconhecer ações do governo federal em Santa Catarina. Sem citá-lo, Lula entrou na onda ao comparar investimentos do governo Jair Bolsonaro no Estado. Aí é a disputa do palanque local contra o palanque virtual, onde Jorginho respondeu nesta sexta-feira também com bravatas.
Pelo olhar político-eleitoral, é o que sobra. O PT continua falando alto entre os seus e expondo suas divisões internas, enquanto Jorginho continua apostando que a troca de descortesias com Lula é benéfica nas urnas.