Com cerca de 1 milhão de metros quadrados de edificações industriais construídas em 50 anos de atuação profissional, o engenheiro civil Dilnei Silva Bittencourt lança nesta quinta-feira (9), às 19h, na Casa Hurbana Bocaiúva, em Florianópolis, o livro “Edifícios Industriais” (Santa Editora). Escrita nos últimos quatro anos, a obra é uma referência para estudantes, profissionais e empreendedores. ‘Os primeiros edifícios surgiram com a Revolução Industrial, notadamente na Inglaterra e eram, antes de tudo, abrigo para as máquinas, não para pessoas”, disse o autor. Nesta entrevista exclusiva à coluna, Dilnei fala sobre as transformações dos projetos nas últimas décadas. Um dos desafios está relacionado às mudanças climáticas. “A gente consegue hoje em dia criar um ambiente industrial bastante confortável para o ser humano apesar do caos climático que estamos vivendo”, afirma.

Foto: Fernando Willadino, divulgação
O que o motivou a escrever o livro e como foi o processo de escrita?
Esse ano faço 50 anos de formado, já fiz perto de um milhão de metros quadrados de galpões, e sinto que era uma obrigação pessoal como profissional de passar o que errei e acertei, para servir de guia para a academia, escritórios de projetos e investidores. Porque o edifício industrial normalmente é determinado pelo empreendedores, que não têm, necessariamente, todas as ferramentas para tomar a melhor decisão, a decisão certa. Aprendi com esse pessoal de literatura geral que escrever tem dois tempos, como uma partida de futebol. O primeiro tempo é a leitura. E o segundo é a escrita. O escritor gaúcho Moacir Scliar dizia que a página em branco assustava. Esse livro durou quatro anos. Fui escrevendo ao longo do tempo, reunindo informações e fazendo anotações.
Ao longo das últimas décadas, o que mudou na missão de projetar edifícios industriais?
Mudou muito. Os primeiros edifícios surgiram com a Revolução Industrial, notadamente na Inglaterra. E esses prédios eram, antes de tudo, abrigo para as máquinas, não era para pessoas. Eles eram uma proteção da máquina da indústria têxtil. E absolutamente insuportáveis para o ser humano. Recentemente, talvez nos últimos 30, 50 anos, o prédio passou a considerar a presença do ser humano. Então a construção evoluiu muito. Para terem uma ideia, quando se pensava o layout de uma indústria antiga, se considerava onde entraria o produto, onde seria processado, embalado etc. Tudo era feito para a máquina. O operário tinha que estar transitando entre as máquinas, nem o roteiro dele caminhar era previsto. Então, hoje em dia, a grande evolução foi trazer conforto e segurança para o homem, do ponto de vista de iluminação e ventilação natural, acústica, qualidade do ar, circulação da máquina, suporte de saúde, banheiro. O edifício industrial passou a ser pensado hoje para as pessoas.
As mudanças climáticas também precisam ser consideradas nos projetos?
Sim. A mudança climática afeta a todos nós, em todos os setores. Até na roupa que usamos. O mundo está enveredando por um caminho bastante complicado. Para ter uma ideia, ano passado, a sensação térmica no Rio de Janeiro chegou a 63 graus. É insuportável. Então, como faço um edifício industrial que tem máquina, que gera barulho, calor e faço ele confortável? Aparecem diversas estratégias, que apresento no livro, que passam pela renovação do ar, iluminação natural, paredes térmicas, etc. A gente consegue hoje em dia, de certa maneira, criar um ambiente industrial abrigado, bastante confortável para o ser humano apesar do caos climático que estamos vivendo.
E antigos galpões industriais vem sendo transformados em centros de convivência, gastronomia e lazer, não é?
Sim, isso é interessante, que é tendência: não destruir o que foi feito. Se construí, gastei energia, mas a indústria não funciona mais, não vou demolir, e sim revitalizar. Então hoje se pensa o galpão não só como um produto industrial, mas como um produto imobiliário que pode enriquecer as cidades. Esse fenômeno começou a acontecer na Europa e nos Estados Unidos. Nova Iorque nasceu como uma cidade industrial e portuária. A parte mais bonita da cidade era cheia de galpões – que depois foram transformados em lofts, restaurantes, viraram áreas de lazer. Em Florianópolis temos o exemplo do Armazém Rita Maria.
