O Zolpiden, um medicamento de uso psiquiátrico usado em sua grande maioria para dormir, possui agora uma nova dispensação de receita. A partir do último dia 31, a medicação só poderá ser vendido mediante apresentação de uma receita tipo “B”. A norma foi aprovada na data, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Segundo a Anvisa, 13,6 milhões de caixas dessa medicação foram vendidas em 2018. Em 2020, esse número saltou para 23,3 milhões. O crescimento de quase 71% em poucos meses assustou os profissionais de saúde.
A partir de agora, todos os medicamentos à base de zolpidem, independentemente da dosagem, só poderão ser adquiridos com receita azul, em três vias. Essa mudança exige que o médico esteja previamente cadastrado na vigilância sanitária local, o que intensifica o controle sobre a venda desses medicamentos.
Para justificar a mudança, a Anvisa destacou a falta de evidências científicas que sustentem a necessidade de regulamentos diferentes para dosagens de até 10 mg. A agência também ressalta que o uso do zolpidem deve ser o mais breve possível, com um limite máximo de quatro semanas, conforme orientação médica.
Essa restrição é necessária porque há um risco significativo de que o paciente comece a aumentar a dose para obter o mesmo efeito e acabe desenvolvendo dependência do medicamento.
Opinião do especialista
Vinicius Brum Prá, médico psiquiatra e vice-presidente da Associação Catarinense de Psiquiatria explicou que a nova dispensação é importante, principalmente para “frear” o aumento de uso indiscriminado da medicação.
“É importante haver um controle maior sobre o tipo de receituário do zolpidem porque com o passar dos anos muitas pessoas foram desenvolvendo quadros de abuso e dependência, usando doses 10, 20 vezes maiores que as previstas em bula”, explica.
Segundo o psiquiatra, os benzodiazepínicos (clonazepam, diazepam, alprazolam) já usam esse mesmo tipo de receituário há muitos anos justamente para prevenir padrão de consumo abusivo. A receita B1 é numerada e a numeração é fornecida pela Vigilância Sanitária, logo o acesso às receitas é mais controlado e isso leva a maior segurança na prescrição.
O médico faz ainda um adendo importante sobre a temática:
“Insônia é um problema de saúde multifatorial e só o uso indiscriminado de indutores do sono ou medicações hipnóticas não é a melhor forma de enfrentar esse problema”, explica.
O vice-presidente diz que quando a categoria de medicamentos da qual o zolpidem faz parte foi lançada, menos de 20 anos atrás, não se falava em quadros de abuso e dependência mas nos últimos anos esse quadro tem se manifestado com frequência maior e estima-se que 5 a 10% das pessoas que usam podem desenvolver quadros de abuso e dependência.