Explicar não basta. Talvez nunca tenha bastado, mas agora isso se tornou mais evidente do que nunca. As pessoas não estão em busca de novas versões de um fato, nem de explicações mais sofisticadas. Elas querem, acima de tudo, validação. O reconhecimento, mais do que a informação, abre porta para a construção de vinculos de valor.
Esse é um ponto delicado, porque desafia a maneira como sempre se entendeu a comunicação política. A lógica tradicional parte da premissa de que convencer é apresentar argumentos, expor dados, construir narrativas racionais. Hoje, isso não é suficiente. A comunicação que se limita a instruir não transforma. O eleitor não precisa de mais professores. Precisa de líderes que o reconheçam.
Validar não é concordar com tudo, tampouco abdicar de princípios. Validar é mostrar presença. É dizer, de forma explícita ou implícita: “Eu te ouvi, eu entendi, eu me importo”. É esse gesto que abre espaço para diálogo real. Sem validação, o discurso mais elaborado se perde. Pior: em vez de criar relacionamento, gera afastamento.
O desafio é que a validação significa coisas diferentes para pessoas diferentes. Para alguns, é ser mencionado pelo nome. Para outros, é ver suas demandas incorporadas em decisões. Para muitos, é simplesmente perceber que não foram ignorados. A comunicação política precisa lidar com essa pluralidade. Quando não se sabe ao certo o que validação significa, não é falta de técnica. É o reflexo de um conceito que se tornou difuso, como aconteceu com a atenção plena quando foi apropriada pela psicologia popular.
Ainda assim, há um fio comum. Validação é comunicar que se está atento, que se compreende e que se tem empatia pela experiência do outro, aceitando-a como legítima. Parece simples, mas não é. Isso porque, historicamente, as habilidades de validação foram relegadas frente a poderosos discursos. Foram subestimadas como prática cotidiana. Na política, deveriam ser centrais.
O problema é que, em vez de aprender a validar os outros, muitos políticos aprenderam apenas a se autovalidar. E a autovalidação, ao contrário da validação, é corrosiva. Funciona como um câncer: cresce, se espalha e, pouco a pouco, destrói a capacidade de enxergar limites. A narrativa passa a girar em torno do próprio ego. O político se convence de que falar de si já é suficiente. Mas sem validar o outro, não há relação que sobreviva.
Comunicar hoje nas redes exige outro caminho. Um político que sabe usar a validação como elemento-chave melhora seus relacionamentos, reduz conflitos e abre espaços de diálogo. Validar é o modo mais seguro de fazer o outro falar, e ouvir é a condição mínima para construir confiança. Em um cenário em que a escuta ativa se tornou valor escasso, validar é uma forma de devolver às pessoas a sensação de pertencimento.
Na prática, validar significa demonstrar atenção, empatia e reconhecimento. Significa legitimar a experiência alheia como parte do tecido político. Isso não é concessão: é estratégia. Validar as pessoas aumenta a capacidade de influenciar comportamentos. Ignorar essa dimensão, por outro lado, torna a comunicação ineficaz. Em algumas situações, chega a prejudicar o próprio ator político, porque sem validação não há engajamento, e sem engajamento não há relação.
O ponto crucial é compreender que o objetivo da validação não é convencer. O objetivo é abrir possibilidades. Validar é reconhecer as pessoas como são e, a partir desse reconhecimento, ampliar horizontes. É nesse espaço que surgem os vínculos mais fortes e duradouros. É nesse espaço que a política vem se reinventando.
Se comunicar já não é apenas falar, mas validar, então a comunicação política está diante de um novo paradigma. Não se trata de repetir slogans ou decorar frases de efeito. Trata-se de exercitar a habilidade mais rara da vida pública: fazer o outro sentir que foi visto, ouvido e respeitado. Quando isso acontece, a política deixa de ser disputa de narrativas e se transforma em convivência.
E convivência, no fim, é a única linguagem que tem o poder de sustentar qualquer liderança.