Mensageiro: O que diz a denúncia do MP-SC contra ex-prefeito de Rio do Sul e empresários do lixo

O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) ofereceu na semana passada uma nova denúncia no âmbito da Operação Mensageiro, desta vez detalhando supostos crimes em licitações e contratos administrativos no município de Rio do Sul entre 2021 e 2022. A denúncia, referente à sexta fase da operação, mira dez pessoas, incluindo o ex-prefeito José Thomé (PSD), servidores públicos e empresários ligados às empresas Saay’s Soluções Ambientais (antiga Say Muller) e Grupo Serrana (atual Versa).

Denúncia do MPSC derivada da Operação Mensageiro mostra supostos crimes na contratação dos serviços referentes ao lixo em Rio do Sul
Atuação da empresa Saay’s Soluções Ambientais (antiga Say Muller) é o alvo principal da denúncia. Foto: Divulgação.

As acusações se concentram em duas práticas criminosas distintas: fraude na execução de um contrato de coleta de lixo e frustração do caráter competitivo de uma licitação posterior para os mesmos serviços. O ex-prefeito é acusado de ter favorecido o consórcio vencedor, que trabalhava para eliminar da disputa uma concorrente. Não há na denúncia menção a recebimento de dinheiro ou outra vantagem para José Thomé.

A denúncia do MPSC derivada da sexta fase da Operação Mensageiro aponta dois ramos diferentes da investigação. No primeiro, é apontado um suposto esquema entre Say Muller e Serrana para vencer a disputa pelos serviços de coleta, transporte e destinação final de lixo com sobrepreço. A segunda denúncia trata da suposta atuação dos empresários junto ao poder público para impedir a disputa pelo contrato.

Ramo um: suposto esquema entre as empresas

A primeira parte da denúncia descreve um esquema de superfaturamento no contrato decorrente da concorrência vencida pela empresa Say Muller em agosto de 2017. Segundo o MPSC, a empresa cobrava do município de Rio do Sul o valor de R$ 124,65 por tonelada para a destinação final dos resíduos sólidos.

No entanto, a investigação apurou que a Say Muller subcontratou a empresa Planalto Resíduos, integrante do Grupo Serrana, para realizar o mesmo serviço, pagando a ela apenas R$ 95 por tonelada. A diferença seria embolsada pelos denunciados, tornando a execução do contrato mais onerosa para a administração pública.

Para ocultar a manobra, a Planalto Resíduos emitia duas notas fiscais por mês: uma com o valor real, que era efetivamente paga pela Say Muller, outra com o valor residual, que não era quitada, mas servia para justificar o preço cobrado da prefeitura. A denúncia calcula que, entre abril de 2021 e novembro de 2022, a prática gerou um prejuízo de R$ 509.055,88 aos cofres públicos de Rio do Sul.

Ramo dois: licitação supostamente dirigida

A segunda acusação detalha como um pregão eletrônico realizado em 2022 teria sido fraudado para garantir a vitória de um consórcio formado pelas empresas Saay’s (antiga Say Muller) e Serrana Engenharia.

De acordo com o MPSC, antes mesmo do lançamento do certame, os empresários combinaram os preços a serem apresentados em orçamentos prévios para elevar o valor máximo da licitação. Posteriormente, com a ajuda de agentes públicos, o edital teria sido manipulado com a inclusão de cláusulas que favoreciam o consórcio. 

Entre as exigências estava a aglutinação dos serviços de coleta, transporte e destinação final, o que beneficiava o Grupo Serrana por possuir o aterro sanitário mais próximo, em Otacílio Costa. Outra cláusula direcionava para o uso da única estação de transbordo de Rio do Sul, de propriedade da Saay’s.

A denúncia mostra conversas de WhatsApp entre os empresários, o engenheiro e servidor municipal Emerson Souza, responsável por elaborar o edital; e do ex-assessor especial Bolívar Bittelbrunn, que teria atuado como intermediário entre a empresária Schirle Scottini (da Saay’s). Bittelbrunn apresentou-se para intermediar uma reunião entre a empresária e o então prefeito José Thomé.

Uma reunião a portas fechadas entre Schirle e o então prefeito, seis dias antes da data do pregão, também é citada nos autos. José Thomé nega que tenha recebido a empresária a portas fechadas para uma conversa reservada.

Os denunciados e os supostos crimes

Foram denunciados por fraude em contrato e por frustrar o caráter competitivo de licitação os empresários Adriana Olinda Scottini, Arnaldo Muller Junior, Schirle Scottini (ligados à Saay’s), Odair José Mannrich (líder do Grupo Serrana), e os colaboradores Márcio Velho da Silva e Felipe Schroeder dos Anjos.

O ex-prefeito José Thomé, Bolívar Bittelbrunn, Emerson Souza e o engenheiro Rafael Andrade Weber (da Saay’s) foram denunciados apenas pelo crime de frustração do caráter competitivo da licitação.

Ao final, o MPSC requer a condenação dos envolvidos e a fixação de um valor mínimo de R$ 509.055,88 para reparação dos danos causados ao erário.

O que diz José Thomé

O ex-prefeito nega ter recebido a empresária Schirle Scottini a portas fechadas. Segundo ele, além de dois advogados da empresária, também estavam presentes os secretários de Administração, Fazenda e o procurador jurídico.

Segundo Thomé, na reunião a empresária pediu a prorrogação do contrato emergencial por um ano em que vez do pregão que seria realizado seis dias depois. O pedido foi negado com base no entendimento da procuradoria jurídica.

– Não é errado receber na prefeitura e com minha equipe técnica um prestador de serviços. Errado seria eu ir até a empresa, que nem sei onde fica – disse José Thomé.

Outros contrapontos

O espaço está aberto para contrapontos dos demais denunciados, que serão incluídos nesta postagem.

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