Na edição do F5 Upiara Podcast transmitida em 22 de dezembro de 2025, o apresentador Upiara Boschi recebeu a médica Deisy Porto, presidente da Associação Catarinense de Psiquiatria (ACP), e a jornalista Ana Schoeller. O episódio trouxe uma ampla discussão sobre a evolução da psiquiatria como especialidade médica, a desmistificação de tratamentos e uma análise técnica sobre o Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (HCTP) de Santa Catarina.

Da marginalização ao protagonismo na medicina
Durante a conversa, a Dra. Deisy Porto destacou a transformação da psiquiatria ao longo dos anos. Antes vista como um dos “patinhos feios” da medicina, a especialidade hoje figura entre as residências mais concorridas do país. Segundo ela, esse movimento foi intensificado após a pandemia de Covid-19, que evidenciou a chamada “quarta onda”, marcada pelo aumento expressivo de casos de depressão, ansiedade e burnout.
A médica reforçou que o adoecimento mental deve ser compreendido sob uma perspectiva biopsicossocial, envolvendo fatores genéticos, experiências traumáticas e o contexto social em que o indivíduo está inserido.
Hospital de Custódia e a questão da inimputabilidade
A jornalista Ana Schoeller compartilhou sua experiência na produção da série de reportagens “Encarcerados de Si Mesmos”, vencedora de prêmio da Associação Catarinense de Psiquiatria. Segundo ela, a visão negativa que muitos têm do Hospital de Custódia caiu por terra após acompanhar de perto a rotina da instituição, marcada por tratamento humanizado e pelo comprometimento das equipes de saúde e da segurança penal.
Deisy Porto explicou que os internos do HCTP são considerados inimputáveis, pois, no momento do crime, não tinham discernimento ou capacidade de controle de seus atos em razão de transtornos psicóticos ou deficiências mentais graves. O debate também abordou a determinação do Conselho Nacional de Justiça para o fechamento dessas unidades, gerando preocupação quanto à transferência de pacientes de alta periculosidade para a rede de CAPS, que não dispõe de estrutura adequada para esse perfil.
Tratamentos, internações e combate ao estigma
Outro ponto central do episódio foi a desmistificação de tratamentos psiquiátricos. A presidente da ACP esclareceu que a eletroconvulsoterapia (ECT) é um procedimento seguro, realizado em centro cirúrgico com anestesia, e indicado especialmente para quadros graves, como a catatonia.
Sobre a internação involuntária, Deisy Porto defendeu que a medida tem caráter protetivo, sendo fundamental para preservar a vida do paciente e de terceiros. Ana Schoeller reforçou a necessidade de combater estigmas, afirmando que saúde mental não é questão de “força de vontade” ou “falta de fé”, mas sim uma condição médica, comparável a doenças como diabetes ou asma.
Para explicar como os transtornos alteram a percepção da realidade, a médica utilizou a metáfora das lentes: enquanto a pessoa com depressão enxerga o mundo por uma “lente cinza”, o ansioso vive sob uma “lente de aumento”, que transforma situações cotidianas em grandes ameaças.
Redes sociais, gênero e ciência
O podcast também abordou os impactos da era digital na saúde mental, com críticas ao autodiagnóstico difundido em redes como o TikTok e à banalização de transtornos que sequer existem do ponto de vista científico.
No debate sobre gênero, as convidadas destacaram a importância de estudos clínicos que considerem diferenças biológicas e hormonais entre homens e mulheres, superando conceitos ultrapassados e rótulos históricos como a chamada “histeria”.
O episódio marcou ainda a celebração dos 60 anos da Associação Catarinense de Psiquiatria, ressaltando a trajetória da entidade na defesa de um tratamento psiquiátrico ético, científico e comprometido com a dignidade humana em Santa Catarina.






