Florianópolis zera transmissão de HIV e sífilis de mãe para filho

Capital catarinense receberá certificação do Ministério da Saúde e se consolida como referência na atenção à saúde materno-infantil

A campanha Dezembro Vermelho deste ano começa com um reconhecimento histórico para a saúde pública da capital. No próximo dia 3 (qua), Florianópolis receberá oficialmente, em Brasília, o Selo Prata de Boas Práticas Rumo à Eliminação da Transmissão Vertical do HIV e o Selo Bronze para a Sífilis. Na prática, a certificação atesta que o município atingiu indicadores de excelência no pré-natal, assegurando que gestantes vivendo com HIV ou sífilis recebam tratamento adequado, impedindo que os vírus sejam transmitidos para seus bebês.

Os selos são concedidos para Estados e municípios acima de 100 mil habitantes que tenham indicadores próximos a eliminação, segundo critérios da OMS. Em 2023, Florianópolis zerou a taxa de transmissão vertical do HIV – um marco que coloca a cidade na vanguarda da saúde pública brasileira.

“Essa certificação prova que temos a tecnologia, os medicamentos e as equipes necessárias para controlar o vírus. Conseguimos zerar a transmissão para os bebês e temos como desafio continuar avançando para controlar a epidemia de HIV. Atualmente, o que afasta as pessoas do diagnóstico e tratamento da doença é o estigma, o preconceito e a desinformação”, explica Ronaldo Zonta, médico de família e Coordenador do Departamento de Gestão da Clínica da SMS.

Entre 2019 e 2023, a capital registrou uma redução de 31% nos novos casos de infecção por HIV e 26% nos casos de aids. No dia 1º de dezembro, o Ministério da Saúde divulgará o Boletim Epidemiológico de HIV/aids 2024 e a expectativa é a confirmação da tendência de queda, resultado da ampliação da testagem e início rápido do tratamento.

Dados recentes mostram que Florianópolis mantém alta taxa de adesão ao tratamento: até outubro de 2025, 85,5% das pessoas diagnosticadas vivem com HIV em tratamento regular. Entre 90% e 96% desses pacientes apresentam carga viral controlada, não adoecendo nem transmitindo o vírus, alcançando o conceito indetectável. Estima-se que cerca de 11.600 pessoas vivam com HIV na capital, sendo que entre 5 e 10% ainda desconhecem o diagnóstico.

Serviços e iniciativas de prevenção oferecidos na Capital
Florianópolis se destaca nacionalmente pela oferta permanente de uma rede integrada de cuidados, por meio do programa Pare o HIV Floripa, em parceria com o projeto A Hora é Agora. O trabalho segue a lógica da Prevenção Combinada, que reúne diferentes métodos, como preservativos, testagem periódica, PrEP, PEP, tratamento antirretroviral e ações de redução de danos.

Testagem para HIV e outras ISTs
A testagem para HIV, sífilis e hepatites B e C é recomendada para todas as pessoas sexualmente ativas, com realização pelo menos uma ou duas vezes ao ano. Os exames estão disponíveis nos Centros de Saúde, com agendamento pelo Alô Saúde Floripa – 0800 333 3233 ou diretamente com a equipe de Saúde da Família.
A Capital conta ainda com três Centros de Testagem e Resposta Rápida (CTRr), localizados nas Policlínicas (Centro, Continente ou Norte). O atendimento pode ser feito por demanda espontânea ou solicitando agendamento via formulário bit.ly/agendamentotesterapidoist

Preservativos internos, externos e gel lubrificante
Para combater a queda no uso do preservativo, especialmente entre os jovens, Florianópolis já conta com as duas novas opções de preservativos distribuídos pelo Ministério da Saúde: a extrafina, que proporciona maior sensibilidade e a texturizada, projetada para aumentar o prazer. Os insumos são distribuídos gratuitamente em todos os Centros de Saúde e demais serviços de saúde da capital, além das versões feminina e do gel lubrificante.

Autoteste para HIV
Moradores de Florianópolis podem solicitar autotestes de HIV pelo site ahoraeagora.org. A retirada presencial também é possível nas farmácias de Centros de Saúde e Policlínicas, com limite de até cinco unidades por pessoa. Até outubro de 2025, a distribuição de autotestes cresceu cerca de 52% em relação ao ano anterior- passando de 22.241 unidades em 2024 para 33.777.

Tratamento para HIV
O acompanhamento de pessoas vivendo com HIV pode ser feito diretamente nos Centros de Saúde e os casos de maior complexidade são seguidos pelas equipes das Policlínicas/CTRr, após encaminhamento. Como diretriz, o município prioriza o início do tratamento no mesmo dia do diagnóstico ou em até sete dias, conforme avaliação clínica. As informações sobre os serviços oferecidos pelos CTRr estão em https://linktr.ee/ctrrsusfloripa

Entrega de medicamentos pelos Correios
Uma das iniciativas pioneiras de Florianópolis é a entrega de antirretrovirais pelos Correios, em parceria com o projeto A Hora é Agora. O serviço é sigiloso, gratuito e pode ser solicitado pelo (48) 99177-2669. Cerca de 2 mil pessoas já utilizaram o sistema e atualmente 110 usuários recebem os medicamentos mensalmente por essa modalidade.

PEP – Profilaxia Pós-Exposição
A PEP deve ser iniciada em até 72 horas após exposição sexual sem preservativo ou em caso de rompimento. O tratamento dura 28 dias e está disponível nos Centros de Saúde e nas UPAs.

PrEP – Profilaxia Pré-Exposição
Os comprimidos para prevenir o HIV podem ser usados a partir dos 15 anos de idade e o agendamento para início do tratamento é feito via bit.ly/agendamentoprep ou pelo (48) 99608-6606.

Dezembro Vermelho
Em Florianópolis, a campanha nacional Dezembro Vermelho – voltada à prevenção, ao cuidado e ao combate ao estigma relacionado ao HIV/aids e outras ISTs – tem início na segunda, 1º de dezembro. A peça ‘Vírus-território: Um lugar de memória, afeto e fabulação de futuros possíveis’, convida o público a atravessar realidades delicadas e urgentes, onde histórias atravessadas pelo HIV se desdobram em narrativas que misturam ficção, cotidiano, denúncia, afeto e resistência. A apresentação será no teatro da UBRO, com duas sessões – às 18h com audiodescrição e às 20h com intérprete de Libras. Os ingressos são gratuitos e devem ser retirados meia hora antes dos espetáculos.

Já nas três primeiras quintas-feiras de dezembro (04, 11 e 18), o GAPA de Florianópolis fará edições do Cine Debate sobre a série “Máscaras de oxigênio não cairão automaticamente’, que retrata o início da epidemia de aids. Além da exibição dos episódios, em cada encontro haverá roda de conversa sobre tratamento, estigmas, preconceito e cuidado. Os encontros serão às 19h no SapatecoBar – Rodovia Francisco Magno Vieira, 2832, Campeche.

No dia 8 (seg), às 19h, no Bugio Centro (Rua Victor Meirelles, 112 – Centro Leste) haverá a apresentação de ‘Criando Pontes: Mulheres, Arte e Interseccionalidade na Luta contra o HIV/AIDS’, da pesquisadora e integrante do Laboratório de Estudos de Gênero e História (LEGH/UFSC), Letícia de Assis. Serão dois curtas-metragens inspirados em crônicas escritas por ela sobre mulheres reais após 3 anos de pesquisa para sua tese de doutorado.

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