As eleições para a presidência da Assembleia Legislativa nem sempre ocorreram nessa calmaria que tem sido nos últimos anos, quando o eleito sempre chega com unanimidade. O governador Jorginho Mello (PL) tem em sua trajetória política um exemplo de como no parlamento catarinense nem sempre o que parece ser, é.
Ele mesmo, perdeu sua única eleição na vida quando disputou a presidência da Alesc sem ter tudo acertado previamente.

Há alguns anos havia um embate ferrenho. Em 2001 foi assim, quando o nosso hoje governador disputou pela primeira vez a presidência do parlamento catarinense.
Em 15 de março de 2001 a eleição do presidente da Alesc, protagonizada por Jorginho Mello (na época PSDB) e Onofre Agostini (do então PFL) entrou para a história.
Onofre tinha o apoio da base do Governo (Esperidião Amin) e Jorginho representava a oposição, com seu PSDB, mais PMDB, PDT e PT.
O presidente que conduziu a tumultuada sessão, que entrou madrugada adentro, era Gilmar Knaesel (do PPB, que deu origem ao PP). Depois ele migrou para o PSDB, onde está até hoje.
Após vários dias de discussão e articulação, não houve consenso. Nos bastidores do parlamento a conversa é que cada um dos deputados teria 20 votos e que Onofre venceria pela idade. E foi quase isso que aconteceu.
Na primeira votação, Jorginho Mello fez 20 votos, Onofre 19 e teve um voto nulo. Como ninguém fez os 21 votos exigidos pelo regimento interno da Alesc para formar a maioria, foram para o segundo turno.
E aí foi que ocorreu o fato inusitado e que entrou para a história da política de Santa Catarina.
Enquanto a votação do segundo turno estava sendo preparada, os deputados descobriram que o voto nulo do primeiro turno iria para o deputado Onofre Agostini no segundo turno e o resultado seria o empate. Pelo regimento, empatada a votação vence o mais velho. No caso, Onofre Agostini, que estava à época com 61 anos. Jorginho Mello tinha apenas 45 anos.
Os deputados que apoiavam Jorginho Mello, entre eles Ideli Salvatti (PT), Jaime Mantelli (PDT) e a bancada do PMDB (liderada pelo hoje desembargador do TJSC, João Henrique Blasi) tentaram anular a votação, alegando que alguns parlamentares abriram seus votos, deixando de lado a exigência do regimento interno para que fossem secretos – desde 2005 a votação é aberta.

Teve muita acusação no plenário de que o Governo mandou sua “tropa de choque” para a Alesc com o objetivo de pressionar os deputados a votar em Onofre Agostini. E realmente havia secretários do governador Esperidião Amin na Assembleia Legislativa naquele dia.
Uma corrida de olho na ata da sessão dá para perceber, pelos pronunciamentos registrados, que o clima era de muita animosidade entre os parlamentares.
Num determinado momento, o presidente mandou desligar os microfones da deputada Ideli Salvatti e do deputado Nelson Goetten (lembram dele?) porque as falas eram impublicáveis.
O curioso foi que mesmo tendo vencido, por um voto, o primeiro turno, os apoiadores de Jorginho Mello queriam a anulação da votação.
O presidente Gilmar Knaesel não aceitou os requerimentos verbais e também um feito por escrito pelo deputado Jaime Mantelli, do PDT. Todos pediam a anulação do primeiro turno, que eles haviam vencido.
Eleitores de Jorginho saíram do plenário, mas um desavisado garantiu quórum
Passado das duas horas da manhã, o presidente prosseguiu com a votação do segundo turno. A oposição, então, se retirou do plenário para não dar o quórum mínimo exigido, de 21 deputados, e assim a disputa ficaria para o outro dia, abrindo espaço para novas negociações.
— Não há possibilidade de se fazer esta votação e a nossa retirada é no sentido de conclamar para que possamos amanhã, de cabeça fria, conversar e desagravar a sociedade catarinense, que hoje foi agravada por tantos lamentáveis episódios que aqui foram por todos presenciados — disse o deputado Blasi, segundo a ata, pedindo uma questão de ordem.
Foi então que ocorreu algo ainda mais “sui generis”.
O deputado Ronaldo Benedet, do PMDB, se atrapalhou (tem gente que jura que foi intencional) e acabou ficando no plenário e sua presença garantiu o quórum, com seu voto sendo computado como abstenção.
Então, naquele segundo turno, Onofre Agostini fez 20 votos e Jorginho Mello nenhum voto, porque os deputados (incluindo ele) saíram do plenário.
Benedet, sem querer ou não, garantiu a eleição de Onofre Agostini, que assumiu a presidência do parlamento na mesma noite.
Já eram mais de três horas da manhã quando Gilmar Knaesel proclamou o resultado:
— A Presidência buscando o Regimento desta Casa e a comprovação dos fatos indefere o requerimento dos signatários. Portanto, proclama 20 votos para o Deputado Onofre Santo Agostini, nenhum voto para o Deputado Jorginho Mello, nenhum voto em branco e uma abstenção. Proclama eleito o Deputado Onofre Santo Agostini o novo Presidente da Assembleia Legislativa—anunciou Knaesel, de acordo com a ata da sessão.
Antes disso, Jorginho Mello e Onofre Agostini foram aliados na defesa do governador Paulo Afonso (PMDB) em um processo de impeachment. Mas isso é outra história.
Mais tarde, em fevereiro de 2009, Jorginho Mello costurou melhor e também foi presidente da Alesc. Para não correr risco de perder pela idade, fez um grande acordo de divisão de mandato com Gelson Merisio (DEM na época) e recebeu o voto de todos os 40 deputados.