MDB e PT em SC: uma aliança que quase aconteceu

Uma decisão mudou a política de Santa Catarina, no primeiro governo de Luiz Henrique da Silveira. Por pouco a história do MDB nos governos de LHS poderia ter sido construída com o PT e não com o PFL, como ocorreu. Luiz Henrique me contou durante uma viagem em que o acompanhei como jornalista aos Estados Unidos e Canadá, em 2005. 

Frutuoso Oliveira relembra o momento histórico em que o PT esnobou convite para ingressar no governo do MDB e abriu espaço para outra aliança

Ele foi eleito em 2002, vencendo o ex-governador Esperidião Amin, no segundo turno, por algo em torno de 20 mil votos. Uma vitória apertada e que parecia quase impossível. Para esse resultado foi de extrema importância a participação do então candidato a presidente Lula, no comício de encerramento da campanha, no largo da Alfândega, em Florianópolis.

Um grande ato político que pode ter sido determinante para o apoio de setores do PT, que lhe garantiram a vitória.

LHS relatou que a participação de Lula no comício foi combinada diretamente com José Dirceu, o coordenador-geral da campanha presidencial. 

Caso vencesse a eleição, seu objetivo era ter o PT no Governo. A previsão era que Lula encerrasse a campanha em São Bernardo do Campo (SP), sua cidade. Por decisão de Dirceu, acabou mudando para Florianópolis. Como defendia que manter a palavra era o maior bem que um político poderia ter, assim que venceu a eleição começou a aproximação com o PT. 

Articulou a eleição do então deputado estadual petista Volnei Morastoni à presidência da Alesc. Volnei é do MDB desde 2016, mas à época era deputado do PT. Na sua segunda viagem internacional, LHS manobrou para que o vice Eduardo Moreira também viajasse e deixou Morastoni como governador por 13 dias, um número emblemático para coincidir com o 13 do PT. 

Antes tinha viajado e levado junto o casal petista Décio Lima (deputado federal) e Ana Paula Lima (deputada estadual). A aliança estava sendo construída.

E por que essa parceria não deu certo?

A coligação de LHS, formada por PMDB e PSDB, elegeu apenas dez deputados. Ele sabia que enfrentaria uma oposição acirrada do PPB, partido do derrotado Esperidião Amin, que sozinho elegeu dez parlamentares e contava com mais os oito votos do PFL, aliado na eleição, e ainda dois votos do PTB e um do PL. 

Assim, os nove votos do PT seriam imprescindíveis para o sucesso do seu Governo.

Mas o PT, mesmo com o presidente da Alesc eleito com o apoio da base de LHS, decidiu ir para a oposição. 

A oposição, até certo ponto, era light, mas estava longe de ser comportamento de aliado. Na época, LHS deu detalhes dos acontecimentos lembrando sua conversa com o então ministro José Dirceu:

– Fui ao José Dirceu, ministro da Casa Civil, e lhe disse que não havia como manter o acordo em Santa Catarina e que iria procurar o PFL. Ele entendeu e continuamos tendo uma boa convivência no Governo. 

Sobrou para LHS então ir atrás do PFL de Jorge Bornhausen, Raimundo Colombo e Júlio Garcia. Com os oito votos dos liberais, sua base já saltou para 18. Mesmo na oposição alguns petistas também lhe garantiam a governabilidade. Os dois votos do PTB e o voto do PL também acabaram migrando para a base governista e assim ele pavimentou sua caminhada à reeleição.

O PT ficou fora do Governo e do seu projeto de reeleição, dando lugar ao PFL. Ali começou a caminhada que em 2006 levou Raimundo Colombo ao Senado e depois lhe garantiu dois mandatos de governador.

Será que tudo poderia ter sido diferente caso MDB e PT tivessem se tornado aliados lá naquele começo de 2003?

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