Quem vai definir a oposição em 2026?

Por que a família Bolsonaro insiste em afastar qualquer possível candidato de oposição disposto a enfrentar o presidente Lula (PT) em 2026?

A resposta é menos emocional do que parece e mais matemática do que gostam de admitir: preso, com a saúde instável — e confessando que às vezes “fica doidão” pelos remédios — Jair Bolsonaro ainda concentra cerca de um terço do eleitorado brasileiro, segundo as pesquisas

Frutuoso Oliveira analisa as os critérios mais ou menos pragmáticos que vão definir a postura do PL como líder da oposição em 2026

Isso é um patrimônio político gigantesco. E patrimônio, na política, não se empresta. Ao longo da história recente, não faltam exemplos de padrinhos que criaram criaturas mais fortes do que eles próprios e acabaram engolidos pela sombra que alimentaram.

A família Bolsonaro sabe que, se apoiar alguém como Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e ele vencer, estará automaticamente rifada do processo. O novo presidente terá a sua própria base, seu próprio entorno e pouco espaço — ou paciência — para lidar com o clã. 

E convenhamos: eles são considerados “difíceis” até por aliados. Ninguém gosta de conviver por muito tempo com gente difícil.

Se, ao contrário, apoiarem Tarcísio e ele perder, o cacife para 2030, quando o jogo zera, será dele — e não dos Bolsonaro. Ou seja: para a família, do ponto de vista de sobrevivência política, é mais vantajoso perder 2026 com um deles na disputa – e fazer uma boa base no Congresso – do que criar um rival capaz de lhes morder o calcanhar quatro anos depois.

Mas existe outro personagem nessa equação: Valdemar da Costa Neto, o dono do PL. É ele quem controla o partido, o caixa, as chapas e as prioridades. A estratégia da oposição para 2026 passa, obrigatoriamente, pela cabeça dele. E Valdemar pensa como operador, não como herói de epopeia. Ele calcula.

O que interessa mais ao cacique? Um partido enorme, comandando uma bancada gigante no Congresso, ou ver seu partido elegendo o presidente da República? A resposta, surpreendentemente, não é óbvia.

Se um dos Bolsonaros for candidato – mesmo com o chefe inelegível e fragilizado – ele puxa votos. Muitos votos. Deputados federais, estaduais e senadores agradecem. Para Valdemar, isso significa mais fundo partidário, mais poder de barganha e mais controle sobre Brasília. 

O custo? Pode ser perder a Presidência. Mas para alguém que jamais sonhou em governar o país, um partido musculoso vale muito mais do que um presidente que não lhe pertence.

A outra opção seria entregar o protagonismo do PL a alguém com chances de vitória, como Tarcísio. Parece tentador, mas traz riscos pesados. Um presidente eleito não deve nada ao cacique partidário. Tarcísio poderia montar sua própria base, fortalecer outros aliados e deixar Valdemar em segundo plano. 

É por isso que a equação se fecha de maneira quase cruel: Valdemar ganha mais com um Bolsonaro candidato e derrotado – mas puxando uma bancada gigantesca – do que com um Tarcísio eleito e independente. No fundo, todos os caminhos levam ao mesmo ponto: o PL deve maximizar poder, e não necessariamente ganhar o Planalto.

Enquanto isso, parte do Centrão continua sonhando com uma chapa liderada por Tarcísio sem o peso do bolsonarismo — mas com uma “bênção” protocolar de Jair Bolsonaro. Mas bênção não é apoio. E, para a família Bolsonaro, apoio não se dá de graça. Especialmente quando o preço pode ser a própria sobrevivência política.

No fim, a direita não se reorganiza porque ninguém quer dividir poder. E porque, no tabuleiro de 2026, cada jogador teme mais o aliado do que o adversário. Quem decide tudo, hoje? Valdemar e o Centrão. Quem atrapalha? Por incrível que pareça, Bolsonaro. Quem perde com isso? O campo todo da direita. Quem ganha? Lula, claro

Raimundo Colombo e a Onda

Participei do F5 Upiara Podcast, com Upiara Boschi e o ex-governador Raimundo Colombo (PSD). Ele avalia disputar mais uma eleição – a 13ª de sua trajetória – desta vez para deputado federal. Durante a conversa, defendeu que a política precisa voltar a ser feita “como gente normal”. Colombo tem razão, mas o eleitor ainda não demonstrou que deseja esse caminho de volta à normalidade.

Poucos políticos catarinenses foram tão atingidos pela onda do bolsonarismo quanto Raimundo Colombo. A força do movimento, a partir de 2018, atropelou estruturas tradicionais e transformou profundamente o comportamento do eleitorado.

Todos sabem: Colombo é um político de perfil liberal e conservador, mas não tem – nem pretende ter – o traço performático que marcou a política de 2018 para cá. E isso cobrou seu preço. Em 2018, renunciou ao segundo mandato de governador para disputar o Senado e terminou em quarto lugar, atrás até de um então desconhecido Lucas Esmeraldino. Os eleitos foram Esperidião Amin e Jorginho Mello.

Em 2022, tentou de novo. Com apenas uma vaga ao Senado, perdeu para outro nome recém-chegado à política catarinense: Jorge Seif, hoje senador pelo PL.

Para Raimundo Colombo voltar a ter espaço, só se a política também voltar ao eixo da normalidade. Mas, olhando o cenário atual, esse retorno parece cada vez mais distante.

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