Por Gabriela Maia
Não fui estuprada, mas é claro que sou vítima da cultura do estupro
Eu não fui estuprada. Mas é claro que…
já fui manipulada e vivi um relacionamento tóxico.
Eu não fui estuprada. Mas é claro que…
escuto “como você é corajosa por viajar sozinha”.
Eu não fui estuprada. Mas é claro que…
já recebi cantadas inconvenientes que retribui com sorrisos sem graça.
Eu não fui estuprada. Mas é claro que…
Tenho vontade de chorar sempre que escuto uma história de violência contra a mulher.
Eu não fui estuprada. Mas é claro que…
Já sofri assédio. Uma vez, sem eu perceber, um homem se masturbou e gozou na minha calça, em praça publica. Aparentemente, nada transmitia uma situação perigosa. Aconteceu em plena luz do dia em lugar aberto e cheio de pessoas. Por anos, evitei pensar ou falar sobre o ocorrido. Sempre evitei roupas decotadas e mais femininas que pudessem chamar a atenção. Naquele dia, eu vestia calça jeans e camiseta. Na terapia descobri que não tive culpa.
O que é a cultura do estupro? Por que um homem pensa que tem direitos em relação ao meu corpo? Como é possível sentir liberdade sexual numa sociedade extremamente machista?
Eu estou cansada de ser corajosa. Mas vou continuar viajando sozinha. E vou continuar superando o medo de vestir uma roupa mais decotada. Se isso é lutar, eu vou continuar lutando.
Eu vou continuar pedindo respeito e educação, apesar de estar cansada. Que a gente encontre forças para transformar medo, insegurança e dor em coragem, segurança e amor. Que a gente encontre forças para cultivar um mundo com mais gentileza, paz e respeito. Este texto é um desabafo e um apelo por mais justiça de gênero. Que a gente tenha garantia ao básico para uma vida digna.
Gabriela Maia é comunicadora e produtora da TVAL