É desafiador levar suas três gatinhas para castrar e uma delas não voltar ao normal após a castração. Foi o que aconteceu ontem com a Elizabeth, a gata preta, também conhecida como Morceguinha, do tutor Leonardo Campos, morador do Rio Vermelho, em Florianópolis. Devido à incidência de esporotricose no bairro, a Prefeitura, depois de muitos meses, chamou a terceira colocada no pregão para realizar o procedimento já há muito tempo requerido pela comunidade. O município estava há mais de um ano e meio sem mutirões de castração para felinos, mesmo tendo feito o pregão eletrônico em abril de 2024. A gatinha ficou em estado comatoso após ter uma parada cardiorrespiratória durante o procedimento de esterilização.

A empresa, responsável pela castração, Castramóvel Brasil Ltda., do Paraná, levou Elizabeth para uma clínica veterinária da região. A situação da gata é grave, e hoje pela manhã teve que ser novamente reanimada após uma convulsão. Logo após o que ocorreu, Leonardo entrou em contato com a Dibea (Diretoria do Bem-Estar Animal de Florianópolis) e pediu informações sobre como seguiria o tratamento de sua gata, mas foi informado que a empresa que castrou o animalzinho seria a responsável por todo o protocolo a seguir. Ele queria solicitar a realização de exame de sangue para poder saber qual o tratamento mais adequado na tentativa de recuperar a saúde de Elizabeth, mas segundo a Dibea, já que foi a empresa que a internou, só ela poderia autorizar os procedimentos.
A situação de Elizabeth chega a ser escandalosa. A empresa contratada é que diz o que pode ser feito? Como assim? Ela não foi colocada em uma clínica veterinária? E não são os veterinários, que estão com os animais, que sabem o que é melhor fazer? Então, que assim seja. Já que a gatinha teve uma intercorrência em um procedimento habitual, em geral sem riscos, então que seja realizado tudo para a sua pronta recuperação.
No final de outubro do ano passado, conforme informações da imprensa, a empresa Castramóvel Brasil teve quatro mortes de animais entre os cerca de 200 castrados em um mutirão que ocorreu no estacionamento da Arena Multiuso Prefeito Estêner Soratto, no município de Tubarão, no Sul do Estado. Uma das gatas, de 10 meses, segundo o laudo necroscópico, morreu também em decorrência de parada cardiorrespiratória.
Consultado, um veterinário especialista em felinos, deu a seguinte declaração: “Quando um animal é submetido a procedimento cirúrgico, é dever do profissional médico-veterinário garantir que todas as etapas sejam conduzidas com responsabilidade, conhecimento técnico e profundo respeito à vida. A ética deve estar presente em todo o processo: no pré-cirúrgico, no transcirúrgico (durante a cirurgia) e no pós-cirúrgico. Cada momento importa. Cada detalhe faz a diferença na segurança e recuperação do paciente. Eventuais complicações anestésicas ou cirúrgicas não devem ser tratadas com banalidade. Todo animal que apresente intercorrência durante, ou após a cirurgia, deve ser imediatamente internado e estabilizado com suporte adequado, visando o restabelecimento de suas funções vitais. No caso específico de felinos, há uma atenção redobrada por parte dos especialistas. Existe um conceito amplamente conhecido entre nós: a “tríade da morte”, composta por hipoglicemia (queda de açúcar no sangue), hipotermia (queda de temperatura corporal) e hipovolemia (redução do volume sanguíneo). Esses três fatores, quando presentes, aumentam consideravelmente o risco de óbito em gatos durante procedimentos cirúrgicos. Por isso, o monitoramento intensivo e o manejo adequado de temperatura, volume e glicemia são imprescindíveis antes, durante e após a cirurgia. É por esse motivo que insistimos tanto com os tutores sobre o jejum correto. Não pode ser nem prolongado demais, nem feito de forma inadequada. O jejum excessivo leva à hipoglicemia, especialmente perigosa em filhotes, gatos senis ou debilitados. Além disso, manter o animal em jejum por longas horas em salas de espera lotadas, aguardando cirurgia por tempo indeterminado, é uma grave falha de manejo clínico e anestésico. Por isso, alertamos: mutirões de castração que visam operar um número muito alto de animais por dia representam um risco real à saúde dos pacientes, especialmente se não houver estrutura, equipe técnica suficiente e protocolos rígidos de triagem, anestesia e recuperação. O ideal é que se estabeleça um limite ético e seguro de animais atendidos por dia, com foco na qualidade do cuidado e não na quantidade de cirurgias realizadas. Todo animal merece respeito, cuidado individualizado e atenção médica adequada. Em cada etapa, o bem-estar do paciente deve ser prioridade. Não podemos normalizar perdas evitáveis. Fazer certo é sempre mais importante do que fazer muito.”
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