Inquérito da PF mostra que Bolsonaro ignorou SC até na suposta tentativa de golpe

Diz a lenda que lá por novembro ou dezembro de 2022, com a frente dos quartéis tomandas por militantes bolsonaristas e o silêncio público do Jair Bolsonaro (PL), já derrotado por Lula (PT) no segundo turno das eleições daquele ano, um muito conhecido empresário catarinense reclamou com um quase desconhecido eleito do PL em Santa Catarina sobre a falta de uma palavra de ação do então presidente. A resposta que ouviu teria se limitado a um sorriso a uma onomatopeia que havia virado bordão:

  • Tic, tac, tic, tac.


O tempo passou e todos conhecemos a história que teve uma apoteose em 8 de janeiro de 2023, mas que acabou ficando por isso mesmo. O poder mudou de mãos e metade do país está insatisfeita – mais de 70% quando se fala em Santa Catarina.

Relembro aquela história que ouvi, mas que não consegui comprovar com fontes suficientes que me dessem a garantia de publicação dos nomes, por mais óbvios que pareçam ser, porque neste outro dia 8, de fevereiro, a ação da Polícia Federal sob autorização do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, mostra que o bolsonarismo catarinense não passou de mero bravateiro nas discussões sobre a suposta articulação de um golpe de Estado por Bolsonaro, seus aliados mais próximos e meia dúzia de generais.

De posse a íntegra do inquérito, fiz uma busca rápida por nomes de peso do PL catarinense ou do bolsonarismo aqui no Estado. Jorginho Mello, governador. Não foi encontrada nenhuma ocorrência. Jorge Seif, o senador do Bolsonaro. Não foi encontrada nenhuma ocorrência. Luciano Hang, o empresário ativista. Não foi encontrada nenhuma ocorrência. Caroline de Toni, a deputada federal mais votada. Não foi encontrada nenhuma ocorrência. Julia Zanatta, a deputada federal amiga do filho. Não foi encontrada nenhuma ocorrência.

Tentei outros tantos. Não foi encontrada nenhuma ocorrência.

Enquanto passamos a quinta-feira perplexos diante de conversas claras sobre melar uma eleição presidencial, sobre prisão de autoridades e de adversários, de minutas de golpe sendo analisadas por um presidente ainda no cargo, fica a constatação de que as lideranças do bolsonarismo catarinense são evidentemente periféricas nesse jogo. Isso não é elogio, nem crítica, nem defesa, nem acusação. É mera constatação.

O Estado que proporcionalmente mais aderiu ao bolsonarismo e um dos que mais clamou em frente aos quarteis por uma virada de mesa, não estava nas mesas em que se supostamente se discutiu um golpe de Estado. Ainda há espaço para muitos desdobramentos e surpresas nessa história toda, mas fica a sensação de que para Santa Catarina, Bolsonaro reservou mesmo apenas as motociatas e as folgas em São Francisco do Sul.



Imagem: Print de uma das páginas do inquérito da Polícia Federal.

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