Na tradicional entrevista coletiva de encerramento do ano legislativo, o presidente da Assembleia Legislativa, deputado estadual Júlio Garcia (PSD), foi fiel ao seu estilo: polido na forma, mas contundente no conteúdo político. Ao traçar o cenário para 2026, o pessedista não apenas confirmou sua pré-candidatura a deputado federal, como enviou um recado claro, ainda que nas entrelinhas, de que não está nos seus planos compor como vice na chapa de reeleição do governador Jorginho Mello (PL).
– O meu projeto é definido: sou pré-candidato a deputado federal – afirmou Júlio Garcia.
Questionado pela jornalista Maga Stopassoli, colunista do Portal Upiara, sobre se a resposta poderia mudar caso houvesse um convite real, ele brincou:
– Se houver convite eu vou dizer que estou muito feliz com minha pré-candidatura a deputado federal.

Júlio Garcia fez críticas diretas e indiretas à gestão de Jorginho Mello. Embora tenha elogiado a harmonia institucional entre os poderes — creditando a ela a estabilidade política de Santa Catarina em contraste com a polarização nacional – ele foi foi incisivo ao cobrar o ritmo das entregas em infraestrutura e saneamento.
Para o deputado, o governo “não caminhou na velocidade desejada” nestas áreas cruciais. A crítica veio acompanhada de um diagnóstico político afiado: segundo Garcia, a necessidade de medidas estruturantes, como as Parcerias Público-Privadas (PPPs) para universalizar o saneamento e melhorar rodovias, esbarra no calendário eleitoral.
– A reeleição atrapalha isso – disparou, sugerindo que o temor de desgaste político em um projeto de continuidade impediu o governo de tomar decisões ousadas e necessárias.
O pessedista recorreu a uma situação hipotética para apontar o caminho que considera ideal, citando a Federação das Indústrias (Fiesc)
– Eu costumo dizer, brincando, mas é uma verdade: se eu fosse candidato a governador, eu ia na Fiesc, pegava o planejamento que eles têm e trazia para o governo. Porque o Estado não tem cultura de planejamento – disse o parlamentar.
Júlio Garcia evita comentar proibição de cotas raciais
No balanço institucional, o presidente celebrou números superlativos em 2025. A Alesc registrou um aumento de 38,5% na aprovação de projetos em relação ao ano anterior, totalizando 146 matérias de origem governamental e 780 parlamentares.
Garcia destacou a devolução de R$ 403 milhões aos cofres do Executivo e citou como vitórias legislativas a regulamentação dos limites intermunicipais e as leis de proteção ao produtor de leite catarinense. Segundo ele, o parlamento manterá o ritmo de trabalho em 2026, blindando a pauta legislativa das disputas eleitorais.
Questionado sobre o projeto aprovado no dia 10 de dezembro, que proíbe o repasse de recursos estaduais a instituições de ensino superior que adotam o sistema de cotas raciais, Júlio Garcia esquivou-se de emitir qualquer juízo de valor. Apegando-se à liturgia do cargo, limitou-se a lembrar que, como presidente, só manifesta seu voto em caso de empate no plenário.
– Eu não votei. O presidente só vota em caso de empate. Não houve empate, portanto eu não votei. O plenário é soberano, aprovou a matéria. Agora, ela vai para o governador. O governador sanciona ou veta. Portanto, a pergunta tem que ser dirigida a ele.





