Por Bruno Souza
Em uma nação marcada por desigualdades profundas e bolsões de pobreza extrema, é alarmante e moralmente inaceitável que o Brasil ostente o título de ter o Judiciário mais caro do mundo. Consumindo inacreditáveis 1,6% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, cinco vezes a média mundial, o sistema judiciário brasileiro torna-se um símbolo perverso de uma máquina pública que explora seu próprio povo.
Em um país onde metade da população sobrevive com menos de R$ 500 por mês, é surreal e grotesco que desembargadores do Piauí, por exemplo, recebam salários mensais na casa dos R$ 70 mil a R$ 80 mil, gozem de recessos de 60 dias e de uma série de outras regalias. Em contraste, no mesmo Estado, o jovem Maxwell comemorou recentemente seu aniversário com, literalmente, um bolo de terra, uma imagem chocante de pobreza e desespero.
Vivemos uma segregação social que beira o absurdo. Estamos diante de uma verdadeira exploração, onde uma parte da população é esmagada pelo peso da miséria, enquanto outra se beneficia deste sistema desigual.
Frequentemente, discursos sobre desigualdade social são proferidos, mas é surpreendente como essas discussões quase sempre ignoram a discrepância colossal entre a realidade da maioria da população e a dos membros do Judiciário. O Estado, que deveria ser um agente de equidade, acaba por se tornar o maior indutor de desigualdades no Brasil, perpetuando um ciclo vicioso que atinge principalmente os mais pobres.
Em meio a este cenário, o silêncio do Legislativo brasileiro é ensurdecedor. Nossos representantes parecem estar mais preocupados com questões distantes da realidade e do dia a dia da maioria dos brasileiros.
A esquerda concentra-se em pautas como forçar cotas trans em concursos públicos, enquanto a direita parece mais empenhada em ganhar engajamento nas redes sociais do que em tratar dos problemas reais do país. Essa miopia de prioridades e a falta de ação efetiva apenas perpetuam o sofrimento da população, mantendo o Brasil nessa máquina cruel de transferir recursos dos mais pobres para os mais ricos.
É essencial reconhecer que essa realidade não é apenas um problema de justiça econômica, mas também um grave problema moral. Como alguém em sã consciência pode considerar justo tirar dinheiro do miserável Maxwell para criar verdadeiros milionários da burocracia?
Seria esse gasto exorbitante sinônimo de maior eficiência do Judiciário? Será que nosso Judiciário é realmente mais eficiente que o Judiciário suíço, belga, austríaco, australiano, português? Todos queimam menos de 0,3% do PIB de seus países, 1/5 do que gastam os brasileiros.
Não podemos aceitar passivamente um sistema que privilegia tão descaradamente uma pequena parcela da população em detrimento da maioria. A necessidade de uma reforma profunda no Judiciário é urgente, não apenas para garantir a eficiência e a justiça, mas também para reestabelecer a confiança do povo brasileiro em suas instituições.
O Brasil não pode continuar a trilhar esse caminho de desigualdades extremas e injustiças flagrantes. É hora de repensar, reformular e reconstruir um sistema judiciário que sirva a todos os brasileiros, em vez de se servir dos brasileiros. Somente então poderemos começar a curar as feridas de uma nação dividida e caminhar em direção a um futuro mais promissor para todos.
Bruno Souza (Novo) foi deputado estadual e vereador em Florianópolis.