Leonel Pavan, lições de 2024 e ponto para o time de Camboriú

Não é de hoje que temos conversado sobre como a percepção da classe política, e de seu trabalho, pela população é um importante objeto de estudo e análise para qualquer ocupante de cargo público. Para começar a coluna de hoje, quero traçar um paralelo com as eleições municipais no Brasil e, sobretudo, em Santa Catarina.

Em 2024, vimos a anti-política como uma tônica quase permanente nos grandes cases de comunicação política. Seja com Topázio Neto, na capital catarinense, no processo de sucessão de Clésio Salvaro, ou no fenômeno João Rodrigues em Chapecó. Prefeitos em reeleição ou em processo de sucessão que, apesar de ocuparem cargos eletivos, conseguiram estabelecer pontos de contraste com a política tradicional e, assim, construir relações valiosas com a população.

Os exemplos são tantos que, apenas em Santa Catarina, poderíamos listar vários: André Moser em Indaial, Adriano Silva em Joinville, Cleci Veronezi em Rancho Queimado… Todos eles se destacaram como lideranças que compreenderam a exaustão dos eleitores com o “terno e gravata”, a política dos gabinetes e corredores de repartições. Esses exemplos não são isolados. Eles reforçam uma tendência que não começou em 2024, mas que vem se consolidando há anos: o desgaste acumulado dos padrões tradicionais de representação. Estamos diante de um eleitor que não apenas desconfia, mas frequentemente rejeita o protocolo institucional, buscando lideranças que personifiquem um discurso mais conectado à realidade.

Ao mesmo tempo, esses casos também deixam um alerta: a estratégia de contraste com a política tradicional não é garantia de sucesso por si só. Ela exige autenticidade, consistência e, sobretudo, um entendimento real das demandas locais. Quando bem aplicada, transforma eleições; quando mal utilizada, pode soar artificial e comprometer carreiras políticas.

E aqui chegamos ao ponto central da reflexão: mais do que discursos anti-sistema, o que vimos em 2024 foi a busca por políticos que demonstrassem competência aliada à empatia. O eleitor quer gestão, mas também quer identificação. Deseja resultados, mas não abdica da conexão humana.

Diante disso, no primeiro dia de trabalho dos prefeitos eleitos nesse ciclo, o contraste positivo foi evidente com o prefeito eleito de Camboriú, Leonel Pavan, que parece ter entendido essa dinâmica. Pavan, um político conhecido, usou sua tradicional camisa com os últimos botões abertos, óculos pendurados e o mesmo sorriso que exibia nas ruas pedindo votos, para tomar posse no meio do povo, na Praça das Figueiras.

Pavan foi além: desfilou dirigindo uma tobata, com direito a carona na caçamba. Falou de Deus, de família e manteve um tom alegre e leve. “Gente como a gente.”

“Lembra, Jozias, quando eu te buscava e te levava até meu sitio de tobata? Há 30 anos você me esperava pra irmos pro Rio Pequeno, onde buscávamos comida”, destacou Pavan.

Em um cenário de crescente desconfiança, a comunicação política se reinventa. A linha entre ser percebido como um gestor eficaz e como um político tradicional é cada vez mais tênue. E os exemplos catarinenses de 2024 mostram que, para navegar essa complexidade, é preciso ir além do discurso. É necessário transformar percepções e construir um novo imaginário coletivo, onde o “ser político” volte a ser visto como algo positivo e relevante.

Ponto para o time de Camboriú.

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