Luiz Henrique ensinando a “matar o tigrinho” chamado Claudio Vignatti

Em 2010, Luiz Henrique da Silveira (MDB) renunciou ao seu segundo mandato de governador para concorrer ao Senado. Naquele ano havia duas vagas em disputa. Seu companheiro de chapa era seu ex-secretário de Educação, Paulo Bauer, do PSDB. Leonel Pavan, também do PSDB, assumiu o governo e completou o mandato.

Paulo Bauer havia sido eleito, pelo então PFL, vice do governador Esperidião Amin, em 1998. Em 2002, quando Amin disputou a reeleição, Bauer foi “escanteado” da chapa numa manobra até hoje não muito bem explicada. Uma das versões era de que a saída de Bauer foi exigida pela família Bornhausen para abrir caminho para o então deputado federal Paulinho Bornhausen, que disputou o Senado em 2002 sem sucesso.

Amin acabou perdendo aquela eleição para Luiz Henrique da Silveira.

Bauer concorreu a deputado federal em 2002, se elegendo com pouco mais de 80 mil votos. Em 2006 migrou para o PSDB, concorreu novamente à Câmara dos deputados e ficou na suplência.

Luiz Henrique então o nomeou secretário de Educação e em 2010 saíram juntos pelo Estado numa campanha ao Senado, tendo Raimundo Colombo, então no DEM, como candidato ao Governo.

Assim que a campanha foi tomando corpo começou dentro do MDB uma forte resistência a candidatura de Paulo Bauer. Da mesma forma que essa resistência crescia, principalmente na região Oeste, começava um movimento de “descarregar” o segundo voto no candidato ao Senado pelo PT, Cláudio Vignatti.

Deputado federal em segundo mandato, Vignatti circulava muito bem entre prefeitos e vereadores do MDB. Como foi relator do orçamento da União, conseguiu muito dinheiro aos municípios, através de “emenda parlamentar”, o que lhe dava bom trânsito em todos os partidos.

Em 2010 as redes sociais estavam apenas começando (usamos nessa campanha Twitter, Orkut e Facebook), mas o movimento começou a ser percebido pelas lideranças tucanas e acendeu uma luz amarela na campanha de Paulo Bauer, que foi reclamar com Luiz Henrique.

Conhecido por ser um “político de palavra”, o ex-governador começou a pedir mais votos para Paulo Bauer do que para ele e assim o tigrinho do Beto Carrero entrou na campanha.

Nas reuniões políticas pelo interior do Estado ele contava a seguinte história:

  • Uma vez fui visitar o parque do Beto Carrero e lá chegando o Beto me recebeu com um tigrinho, recém-nascido, no colo. Era um bichinho lindo, dócil e inofensivo. Uma graça. Alguns anos depois voltei ao parque e o Beto então me mostrou como estava aquele tigrinho. Era um bicho enorme e feroz, aprisionado dentro de uma jaula.

Enquanto os ouvintes se entreolhavam tentando entender o que a história tinha a ver com a campanha, ele continuava:

  • Assim é o momento político que estamos vivendo. Vocês querem votar no Vignatti, mas não enxergam que ele hoje é o tigrinho inofensivo, mas lá na frente vai ser o tigre criado que vai engolir o nosso o MDB. Ele vai ser o governador. E para que isso não aconteça, vamos “matar” ele enquanto é pequeno votando no Paulo Bauer, porque depois de grande ninguém mais mata.

Mesmo com a analogia, muitos emedebistas insistiam em votar em Vignatti, o que fez Luiz Henrique, na reta final da campanha, apelar para palavras mais duras, intensificando o discurso:

  • Quem não votar no Paulo Bauer, não precisa nem votar em mim- dizia, nas reuniões que participava.

E assim o tigrinho foi “eliminado” naquela campanha. Luiz Henrique e Paulo Bauer foram eleitos senadores. O primeiro, com 1.784.019 votos e o segundo, com 1.588.403 votos. Vignatti ficou na terceira colocação com 1.219.700 votos.

Luiz Henrique estava certo.

Em 2014, tanto Paulo Bauer quanto Vignatti tentaram ser o tigrão, concorrendo ao Governo do Estado. Bauer ficou em segundo lugar, com 29,9 % dos votos, e Vignatti em terceiro, com 15,5%.

Raimundo Colombo, com o apoio de Luiz Henrique, foi reeleito governador em primeiro turno.

Luiz Henrique morreu em 10 de maio de 2015, quando cumpria seu quinto ano como senador da República. O suplente Dalírio Beber, assumiu em seu lugar.


Arte: Luiz Henrique caçador de tigres pequenos, na interpretação de Galvão Bertazzi.

Os colunistas são responsáveis pelo conteúdo de suas publicações e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do site Upiara.