Por Lia Kleine
A consolidação de Florianópolis como um destino com destaque nacional e internacional é algo que alimenta a estima de todos que como eu, escolheu esse encanto de cidade, desde tenra idade, para estudar, trabalhar, constituir laços familiares, de amizade e creio ser também o sentimento de parte considerável daqueles que aqui nasceram.
No entanto, as temporadas de verão que têm trazido o aumento exponencial da massa humana visitante, nos trazem um sentimento ambíguo, natural e crescentemente preocupante, ressuscitando um conhecido dilema: podemos delinear limites no adensamento populacional da cidade, por conta de suas peculiaridades sócio-ambientais? Devemos refletir sobre a possibilidade de adotar diretrizes de controle do fluxo de entrada de turistas?
Ninguém recepciona em sua casa visitantes que não possam ser acomodados de maneira minimamente confortável em seu interior, não é mesmo? Nós compatibilizamos a hospedagem em nosso lar de acordo com sua capacidade habitacional, número de cômodos, camas, estrutura sanitária, enfim.
E por que razão, a cidade não pode ser pensada de forma similar? Planejada e estruturada para receber bem nossos “hóspedes”. Desse modo, torna-se cada vez mais necessário, pensar nossa “casa”, como um ambiente que seja saudável, prazeroso, transitável, acolhedor, para todos que aqui habitam o ano inteiro. E já que comparei a “urbis” florianopolitana com a nossa casa, é preciso perceber o sinal amarelo que nos alerta sobre a forma doentia pela qual ela está se expandindo em algumas regiões.
Que as pessoas mais vulneráveis precisam de um teto para habitar, isso é fato e o poder público não pode fazer o jogo perverso do “faz de conta”. Afinal, na Floripa real, a cada dia, loteadores clandestinos ofertam oportunidade que qualquer ser humano demanda: um lote de terra para chamar de seu. E como chegam lá, os postes da Celesc? Estaríamos diante do mesmo círculo vicioso no qual determinadas “lideranças” políticas tiram proveito dessa demanda humana latente?
Essa é uma reflexão que aqui nesse espaço ficará pela metade. Buscarei aprofundar esse diagnóstico e apontar modestamente algumas proposições, que diga-se de passagem, não são novas nem originais, em outra oportunidade.
Florianópolis apresenta também facetas novas e sadias nesse período posterior à minha presença em sua vida política quando fui vereadora (1996-2000). Contraditoriamente, persistem dilemas antigos relacionados ao seu desenvolvimento urbano, apoiados em velhas práticas que só adquiriram roupagem “nova”.
Nesse sentido, torna-se impossível não rememorar o olhar humano presente em todas as políticas públicas ofertadas pela prefeitura municipal de Florianópolis, sob a égide do saudoso prefeito Sérgio Grando, da Frente Popular.
Temos, portanto, uma tarefa crucial: projetar um futuro que seja motivo de orgulho para as novas gerações.
Você merece, Florianópolis, sua linda.
Lia Kleine é nutricionista e foi vereadora em Florianópolis pelo PCdoB entre 1997 e 2000.