
Foto: Peter Nesta, divulgação
O Laboratório de Urbanismo e Arquitetura (LUA) foi criado em 2025 para pensar em soluções que contribuam para a gestão urbana de Florianópolis. Nessa fase inicial, a equipe está desenvolvendo projetos para três espaços públicos: a rua Francisco Tolentino, a rua Esteves Júnior e a Beira Mar Norte.
“Queremos espaços públicos de qualidade. Tem também a questão da valorização do patrimônio histórico e pontos como a caminhabilidade nas calçadas, ciclovias conectadas, espaços verdes adequados ao nosso clima quente e a conexão com o mar”, afirma a arquiteta Tatiana Filomeno, diretora executiva do LUA, que é mantido por seis empresas – Hurbana, Woa, Habitasul, CFL, Dimas e Softplan.
O laboratório está servindo de apoio ao escritório dinamarquês Jan Gehl, contratado pela CDL e pela Acif para construção de um projeto urbanístico para a região central da capital catarinense.
Como funciona o LUA?
Tatiana Filomeno – O laboratório é um coletivo de profissionais e técnicos motivados a construir pautas positivas para melhorar a cidade. Era um sonho antigo termos um lugar onde pudéssemos, de forma independente, conversar sobre os assuntos da cidade. Não é um substituto do planejamento urbano, da prefeitura ou dos órgãos municipais, mas um complemento. A ideia é termos um espaço livre para discutir desafios urbanos contemporâneos.
Por que o laboratório nasceu nesse momento da cidade?
Tatiana Filomeno – Foi uma junção de oportunidades. A revisão do Plano Diretor trouxe muitas possibilidades. Florianópolis deve se modificar em termos urbanos, e com essas mudanças virão novos recursos que precisam ser aplicados no espaço público de forma coerente e focada em objetivos claros. O laboratório surge nesse momento em que a cidade está voltada para essa discussão: como Florianópolis vai se recompor com as reestruturações de quadras, novos empreendimentos e geração de espaços públicos? É um momento especial.
Em que fase está o trabalho?
Tatiana Filomeno – Começamos em fevereiro. Nesse primeiro mês definimos missão, visão, eixos temáticos e montamos o plano de trabalho. No início de março apresentamos tudo ao conselho gestor e aprovamos os temas do ciclo de trabalho, que vai de março deste ano até março de 2026. Escolhemos caminhabilidade como tema principal, por ser parte da mobilidade ativa e porque entendemos que o centro da cidade, com novos investimentos, pode ter seus espaços públicos requalificados. A ideia é desenvolver um projeto que a prefeitura pudesse absorver e aplicar recursos provenientes da iniciativa privada. A outorga onerosa será o outro tema prioritário.
Qual é a função do LUA no desenvolvimento do projeto desenvolvido pelo escritório do dinamarquês Jan Gehl?
Tatiana Filomeno – A Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e a Associação Empresarial de Florianópolis (Acif) entenderam a importância do projeto para o centro da cidade e financiaram o contrato. A gente partiu do centro. E o Gehl nunca trabalha isoladamente: sempre precisa de um escritório local. O laboratório é esse escritório local. Fornecemos informações, mapeamentos, projetos existentes, opiniões da população.
Fazemos a ponte entre a realidade local e o escritório internacional. Ajudamos a traduzir informações, construir diretrizes, articular com os contratantes e apoiar no processo de aprovação. O trabalho tem funcionado muito bem. O Gehl atua com grande humildade e colaboração. É um aprendizado bilateral: nós com a metodologia deles, e eles com a realidade brasileira, nossa legislação, cultura e relação com o automóvel.
O que se pode esperar desse projeto na prática? O que consideram importante que o resultado final contemple?
Tatiana Filomeno – Temos muitos desejos, pois sabemos dos problemas da cidade e dos projetos necessários. Mas focamos em caminhabilidade e qualificação dos espaços públicos. Queremos espaços públicos de qualidade, como vemos em cidades que visitamos. Tem também a questão da valorização do patrimônio histórico e pontos como a caminhabilidade nas calçadas, ciclovias conectadas, espaços verdes adequados ao nosso clima quente e a conexão com o mar. E escolhemos três ruas de Florianópolis onde esses assuntos podem ser trabalhados. O escopo inclui o desenvolvimento de projetos para três espaços públicos e um masterplan para o entorno, com ações de curto, médio e longo prazo.
Quais são as três ruas que foram definidas para início do projeto?
Tatiana Filomeno – A Francisco Tolentino, desde o camelódromo em direção ao Parque da Luz. É uma área com casario histórico e muito fluxo de pessoas, mas com pouco aproveitamento urbano. A outra rua é a Esteves Júnior, fazendo a conexão dessa área da Tolentino com a Beira Mar Norte. Tem caráter residencial muito forte, mas que pode ter elementos comerciais que complementem esse uso. Também inclui a área das escolas, porque a gente quer que as crianças caminhem a pé para a escola, com segurança.
E o terceiro ponto é a travessia da Beira Mar, que tem alta velocidade, 11 pistas, desconexão com a borda d´água. Como a gente consegue melhorar essa relação da cidade com o mar e com o próprio Parque Urbano e Marina da Beira Mar Norte que vai estar implantado daqui a pouco? Queremos criar soluções replicáveis para outros pontos da cidade.
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