Malha fina para o produtor, vista grossa para o governo

CPF da terra, dívida rolada e soja com prazo de validade, o resumo da coluna de hoje é cruelmente simples:

👉 Receita cria CPF da terra para apertar o cerco;

👉 Governo libera crédito rural que chega atrasado;

👉 FPA barra imposto, com votação marcada para hoje;

👉 E o Cade põe data de vencimento na soja amazônica.

No fio da navalha, o agro brasileiro segue assim: malha fina para o produtor, vista grossa para o governo.

CPF da Terra

O campo brasileiro acordou na segunda-feira, 29, com uma novidade que promete mudar a vida de quem tem imóvel rural: Receita Federal e Incra assinaram o acordo que cria o Cadastro Imobiliário Brasileiro (CIB) — o “CPF da terra”.

A promessa é juntar em um só sistema o CAR, SNCR, SIGEF e outras siglas que hoje vivem em mundos paralelos.

Resultado? Malha fina da terra: fim das brechas no ITR, automatização no reconhecimento de áreas de preservação e reserva legal, e muito mais fiscalização.

📌 Até 2026, 65% dos imóveis rurais estarão dentro do CIB.

📌 O canal digital para os proprietários estreia em novembro de 2025, em grande estilo, na COP30 em Belém.

Ironia do destino: o agro vai ganhar CPF no palco internacional, mas sem saber ainda se isso vai pesar mais no bolso ou na burocracia.

Dívidas rurais: o socorro que chega atrasado

Na terça-feira, 30, o governo finalmente liberou o passo que os produtores esperavam. O BNDES publicou a circular nº 103/2025, abrindo a linha de R$ 12 bilhões para renegociação de dívidas rurais já existentes.

O Mapa também divulgou a lista dos municípios beneficiados, e a expectativa é atender mais de 100 mil produtores em todo o país.

Mas, como sempre, tem atraso: bancos pediram 15 dias para ajustar sistemas, quando milho, arroz e soja já estão avançando no calendário de plantio.

Resumo da ópera: o crédito existe, mas não é novo recurso novo, e ainda assim, pode chegar quando a janela já fechou.

FPA em guerra contra a taxação

Hoje, dia 2, a Comissão Mista do Congresso volta à mesa para avaliar a MP 1303/2025, que tenta taxar as LCAs.

Na terça, durante o reunião almoço na nova sede, a Frente Parlamentar da Agropecuária já tinha dado o recado: “7,5% é impossível e 5% também não passa”, disse o presidente, deputado Pedro Lupion.

Arthur Lira sinalizou isenção para os títulos do agro e apoio ao setor. Hugo Motta reforçou a blindagem e prometeu que o tema não passa sem o crivo da bancada ruralista.

O recado foi claro: mexer na LCA é cutucar onça brava e com vara muito curta.

Cade dá prazo de validade à Moratória da Soja

Também na terça-feira, o Cade carimbou o fim da Moratória da Soja. O pacto que barra grãos da Amazônia desmatada segue até 31 de dezembro de 2025. Em 1º de janeiro de 2026, fim de jogo.

Produtores comemoraram o “início da liberdade”. Ambientalistas e indústria alertaram que o Brasil joga no lixo um acordo que ajudou a segurar desmatamento e garantiu imagem verde no exterior.

Na prática, o Cade jogou a bomba para 2026, deixando STF, MP e protocolos regionais se digladiando pelos rumos da soja amazônica.

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