MDB: a história nos chama outra vez. Por Marcos Machado

Artigo de Marcos Machado, o Marquinho, Advogado, MBA em Governança, Especialista em Direito Administrativo, Mestre em Desenvolvimento Socioeconômico. Atualmente é o único vereador do MDB de Criciúma.

“O advogado não é ornamento do tribunal. É sentinela das liberdades públicas.” A frase do jurista Sobral Pinto, que desafiou o Estado Novo e depois a ditadura militar, não poderia soar mais atual. Em tempos de crise institucional, quando a liberdade de expressão é tolhida e parlamentares têm seus mandatos cassados por opiniões, é preciso voltar às origens, àqueles que nos ensinaram o valor da democracia mesmo sob o peso da censura, da repressão e da ameaça.

O MDB nasceu como resistência. Como grito abafado que não se calou. Criado em 1966 como a única oposição permitida ao regime militar, o partido foi forjado na adversidade, com coragem moral e compromisso com o Estado de Direito. De suas fileiras brotaram vozes que ajudaram a reconstruir o Brasil democrático: Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Franco Montoro, Teotônio Vilela. Homens que entenderam que a política é a arte de servir à liberdade.

Ulysses, o Senhor Diretas, que desafiou a ditadura nas ruas e nas urnas, disse certa vez: “Tenho ódio à ditadura. Ódio e nojo.” Seu legado não pode ser esquecido, nem relativizado. A redemocratização não foi obra do acaso, mas de uma luta generosa que uniu liberais, trabalhistas, comunistas e católicos progressistas em torno de um valor comum: a liberdade.

Tancredo Neves, cuja eleição pelo Colégio Eleitoral selou o fim do ciclo militar, costumava dizer que “o compromisso maior é com a democracia e com o povo brasileiro”. Montoro, por sua vez, insistia que “a liberdade é o valor supremo da convivência humana”. Eles sabiam que a democracia exige vigilância constante porque seu oposto, a tirania, está sempre à espreita, inclusive sob novas roupagens.

Hoje, vivemos uma crise institucional de proporções inéditas desde a redemocratização. A ruptura entre os Poderes é evidente. As decisões que envolvem punições políticas por opiniões ou posicionamentos ideológicos assustam e não importa se vindas da direita ou da esquerda. Estamos vendo o renascimento da intolerância política, mas agora com o aval de instituições que deveriam proteger, e não reprimir, a pluralidade.

É preciso um ponto de equilíbrio. E é aqui que entra o MDB. A legenda mais longeva da política brasileira tem uma missão que vai além de eleições e ocupação de espaços. O MDB precisa voltar a ser o centro ético e democrático da política nacional. Um ponto de convergência que una os que defendem o regime democrático, mesmo que pense diferente. Um lugar onde a divergência seja respeitada e a liberdade, sagrada.

Nossa história nos dá autoridade para isso. Fomos essenciais na derrubada da ditadura. Não podemos ser cúmplices do nascimento de um novo autoritarismo, ainda que com outro sotaque e outra toga.

O MDB deve ser a voz do equilíbrio, do diálogo e da legalidade. Não se trata de tomar partido em guerras ideológicas, mas de garantir que o jogo democrático continue sendo jogado com regras claras, respeito aos mandatos, liberdade de expressão e segurança jurídica. É o mínimo que se espera de uma democracia madura.

O silêncio diante dos excessos de qualquer poder é conivência. E não fomos forjados na conivência. Fomos forjados na resistência.

O Brasil precisa do MDB. O MDB precisa de coragem para ser novamente o que foi. E nós, democratas, não podemos faltar com a nossa história.

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