Medicamento brasileiro com proteína da placenta devolve movimentos a pessoas com tetraplegia

Medicamento pode revolucionar tratamento para pacientes com perda dos movimentos. Foto: Faperji/Divulgação

Um medicamento experimental desenvolvido por cientistas brasileiros devolveu parte dos movimentos a pacientes com tetraplegia. A pesquisa, conduzida pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em parceria com o laboratório Cristália, utiliza a polilaminina, molécula derivada de uma proteína encontrada na placenta humana, para estimular a regeneração de conexões nervosas na medula espinhal.

Nos primeiros testes clínicos, realizados com oito pacientes que haviam perdido completamente os movimentos abaixo do local da lesão, cinco apresentaram melhora. Eles deixaram a classificação de lesão completa (nível A) e passaram a graus mais leves, recuperando parte da sensibilidade e de funções motoras.

Entre os casos, está o de Bruno Drummond, que ficou tetraplégico após um acidente em 2018. Ele foi um dos primeiros a receber a polilaminina e, após meses de fisioterapia, voltou a caminhar com auxílio. Outra paciente, Hawanna Cruz, que sofreu lesão em 2019, iniciou o tratamento três anos após o acidente e conseguiu recuperar cerca de 60% a 70% do controle do tronco.

O medicamento é aplicado em microdoses diretamente na medula. Segundo os pesquisadores, a ação é mais eficaz quando administrado nas primeiras 24 horas após o trauma, mas também há indícios de resultados em casos mais antigos. Até o momento, não foram registrados efeitos colaterais graves.

Apesar do avanço, especialistas alertam que a pesquisa ainda está em fase inicial. Os resultados foram apresentados em eventos científicos, mas não publicados em revista internacional revisada por pares. Para que a substância chegue à rede de saúde, será necessário iniciar a fase regulatória dos ensaios clínicos e obter autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Lesões na medula espinhal são consideradas atualmente irreversíveis e atingem milhares de brasileiros todos os anos, em grande parte por acidentes de trânsito e episódios de violência. Se confirmada em estudos mais amplos, a polilaminina pode representar uma das descobertas mais relevantes já feitas no país para a área da neurologia.

Confira o vídeo do jornal Folha de São Paulo sobre o assunto:



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