Artigo de Carlos Leite, presidente do Sinduscon Grande Florianópolis

O debate sobre moradia popular em Florianópolis ganha novo fôlego com o envio, pelo prefeito Topázio Neto, de um projeto à Câmara Municipal voltado a fomentar a construção de habitações de interesse social. Trata-se de uma iniciativa relevante, que precisa ser recebida com seriedade pelo poder público, pelo setor produtivo e pela sociedade.
É sabido que a capital catarinense tem um dos metros quadrados mais caros do Brasil, resultado da escassez de áreas disponíveis e da valorização crescente da cidade. Nesse contexto, garantir moradia digna para famílias de baixa renda é um desafio que não pode ser adiado. Mas tão importante quanto construir, é decidir onde construir.
A experiência mostra que não basta erguer conjuntos habitacionais afastados dos centros urbanos. Esse modelo, já aplicado em tantas cidades brasileiras, resulta em exclusão social, longos deslocamentos, precarização das condições de trabalho e, muitas vezes, na estigmatização de comunidades inteiras. Moradia popular não pode ser sinônimo de isolamento. Ao contrário: precisa estar integrada às centralidades urbanas, perto dos empregos, dos serviços, do transporte coletivo e das oportunidades.
A proposta do Executivo municipal segue a diretriz do plano diretor e nos coloca o desafio de pensar um programa habitacional que seja inclusivo e que fortaleça o tecido urbano. Isso exige planejamento, incentivos adequados e parcerias sólidas entre poder público e setor privado. O Sinduscon defende que a política de habitação popular seja tratada como eixo central do desenvolvimento urbano, e não como uma ação periférica.
Promover habitação social nas centralidades urbanas é também uma forma de reduzir desigualdades, aumentar a diversidade dos territórios e tornar a cidade mais sustentável. Cidades inclusivas não expulsam sua população de baixa renda para áreas distantes, mas acolhem todos os cidadãos em seus espaços mais vivos.
A moradia é mais do que um teto. É cidadania, é acesso a oportunidades, é qualidade de vida. Por isso, iniciativas como a apresentada pelo prefeito precisam ser debatidas com profundidade, aprimoradas com a contribuição de entidades técnicas e transformadas em políticas consistentes. Não há futuro próspero sem cidades que garantam, a todos, o direito de morar bem – e de morar na cidade.