Camilo Martins escreve artigo sobre o abandono histórico do Morro dos Cavalos, em Palhoça, destacando os riscos à segurança, os impactos econômicos e o que chama de “falta de ação do Governo Federal”.

O Morro dos Cavalos, em Palhoça, transformou-se no retrato do descaso e da omissão. Em vez de soluções, o que temos ali é um cenário de conflito e abandono. Entre os inúmeros gargalos viários do território catarinense, poucos exigem tanta urgência — e recebem tão pouca decisão efetiva — quanto esse trecho da BR-101.
A cada acidente, deslizamento ou engarrafamento, a tragédia é anunciada. A região metropolitana da Grande Florianópolis, com mais de 1,2 milhão de habitantes, convive com um ponto crítico que isola comunidades, ameaça vidas e prejudica nossa economia. O Morro dos Cavalos é uma ferida aberta no principal corredor logístico do Estado — e o país, especialmente o Governo Federal, precisa encarar esse problema com a seriedade que ele exige.
Como deputado estadual e coordenador da Bancada da Grande Florianópolis, tenho atuado de forma constante na busca de soluções para os problemas de mobilidade da região. Já estive mais de 30 vezes em Brasília com esse propósito. Mas, até aqui, as respostas têm sido sempre as mesmas: evasivas, burocráticas e sem comprometimento com prazos concretos.
A verdade é que já ultrapassamos todos os limites do aceitável. A última tragédia — com um caminhão-tanque que explodiu e incendiou 24 veículos no início de abril de 2025 — por pouco não custou vidas. E será preciso que aconteça uma tragédia maior, com mortes, para que se tomem providências? Não podemos permitir que mais cruzes sejam fincadas à beira da rodovia enquanto a inação persiste.
Por isso, além de articulações políticas, estamos encaminhando uma ação na Justiça Federal para obrigar a execução da obra dos túneis. O objetivo é que haja um cronograma realista, supervisionado por um juiz, para garantir que essa intervenção tão aguardada finalmente saia do papel.
Uma obra esperada há mais de 20 anos
O túnel do Morro dos Cavalos não é novidade. Ele foi planejado ainda na época da duplicação do trecho Sul da BR-101, iniciada em 2005. Em 2007, o projeto executivo foi contratado. Em 2010, estava pronto. A licença ambiental foi concedida pelo Ibama em 2018. No entanto, até hoje, a obra sequer começou. O motivo? A eterna desculpa da falta de recursos e a ausência de prioridade política.
Em 2016, o edital de licitação chegou a ser publicado, mas foi suspenso por recomendação do Tribunal de Contas da União (TCU), que apontou a inexistência de garantias financeiras. Desde então, assistimos à mesma novela: solicitações de renovação de licenças, estudos técnicos, reuniões infrutíferas e promessas que não se concretizam.
Enquanto isso, a rodovia mais movimentada de Santa Catarina continua sendo bloqueada de tempos em tempos por deslizamentos, acidentes ou chuvas intensas. De 2023 para cá, apenas dois anos, o trecho já registrou 94 acidentes, 85 feridos e três mortes. Um verdadeiro colapso logístico, com impactos diretos na economia catarinense e na segurança da população.
Uma causa humanitária, além de estrutural
O Morro dos Cavalos não é apenas uma obra de engenharia. É também uma questão humanitária. O trecho corta uma aldeia indígena, cuja segurança também está em risco diante do tráfego intenso e das condições precárias da estrada. Além disso, a parte sul de Palhoça, com praias e comunidades inteiras, fica frequentemente isolada quando há bloqueios na rodovia.
É preciso respeitar o direito de ir e vir dos moradores, garantir segurança para os povos originários e dar dignidade para todos que trafegam por ali. A nossa luta é por uma obra estruturante, sim, mas que também salva vidas e impede que famílias sejam destruídas pela irresponsabilidade de quem deveria agir.
União e pressão
A bancada da Grande Florianópolis está unida em torno desse objetivo. Junto ao governador Jorginho Mello, vamos intensificar a pressão sobre o Governo Federal para garantir que a obra seja retomada, com recursos assegurados e cronograma definido.
Chega de promessas. Chega de protelar uma obra que já deveria estar pronta há uma década. O túnel do Morro dos Cavalos precisa deixar de ser o símbolo da discórdia e virar um exemplo de responsabilidade e eficiência. O tempo da espera acabou. É hora de agir.
Camilo Martins (Podemos) é deputado estadual e coordenador da Bancada da Grande Florianópolis