
Santa Catarina vive um paradoxo. Ao mesmo tempo em que registra avanços pontuais da presença feminina nos espaços de poder, os números mostram que a mudança estrutural ainda é lenta. Apenas 19,81% das cadeiras nas Câmaras Municipais e 10% na Assembleia Legislativa são ocupadas por mulheres, um dado que expõe a distância entre o ideal de paridade e a realidade política catarinense.
Esse percentual revela um quadro de representatividade simbólica: mulheres estão presentes o suficiente para compor a narrativa de diversidade, mas ainda em número insuficiente para alterar a agenda política de forma consistente.
As cotas eleitorais, criadas para corrigir desigualdades históricas, continuam sendo um instrumento necessário, mas não garantem, por si só, mudanças efetivas. A persistência de candidaturas fictícias e a subalocação de recursos de campanha minam a eficácia do sistema. Para que o avanço seja real, é preciso que partidos se comprometam não apenas com o cumprimento da lei, mas com a construção de lideranças femininas competitivas.
A filiação a partidos políticos de mulheres que têm ocupado espaços inéditos, ao exemplo da ex-presidente da OAB/SC Cláudia Prudêncio, abre caminhos para uma nova geração de lideranças. Cláudia concorrerá a uma cadeira no parlamento estadual. Outro nome, que no futuro poderá ser referência nessa construção, é o da atual secretária de Estado da Educação, Luciane Ceretta.
Já na linha de frente, as parlamentares e prefeitas eleitas têm a missão de romper barreiras históricas e invisíveis, como a violência política de gênero. Já que apesar dos avanços institucionais, esse tipo de violência continua sendo um obstáculo silencioso.
O caso, por exemplo, da vereadora Ana Lúcia Martins, alvo de racismo e ameaças de morte após ser eleita a primeira mulher negra em Joinville, escancara o custo emocional e físico de romper estas barreiras.
Embora a passos lentos, alguns avanços podem e merecem ser comemorados. O TRE/SC atingiu mais de 40% de mulheres em cargos de chefia, um recorde para a instituição. No Executivo, pela segunda vez na história temos uma vice-governadora. Em Lages, a eleição de Carmen Zanotto (Cidadania) como primeira prefeita da cidade é histórica, assim como a eleição de Juliana Pavan (PSD) em Balneário Camboriú. Esses marcos sugerem que a resistência ao avanço feminino começa a ceder, ainda que lentamente.