A política catarinense segue sendo majoritariamente masculina, mas 2025 foi um ano no qual vozes femininas ocuparam espaços estratégicos, tensionaram estruturas tradicionais de poder e ampliaram o debate público em áreas centrais da vida institucional do estado. Em diferentes frentes, do Legislativo ao Judiciário, do Ministério Público à gestão municipal, mulheres assumiram protagonismo e deixaram marcas que ajudam a compreender o atual momento político de Santa Catarina. A coluna selecionou alguns nomes que tiveram destaque nesse cenário com base em opinião própria diante das pautas que acompanhei durante o ano. Antes de qualquer julgamento, adianto que, com certeza, há uma lista ainda maior que poderia aqui ser referenciada.

Ana Campagnolo e o debate sobre representação política
Deputada estadual pelo PL, Ana Campagnolo esteve no centro de um dos debates políticos mais ruidosos do ano ao se posicionar publicamente sobre a possibilidade do vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro, disputar uma vaga ao Senado por Santa Catarina. Independentemente das leituras ideológicas, sua postura evidenciou um movimento raro na política local: o de tensionar internamente um campo político historicamente disciplinado, trazendo à tona a discussão sobre identidade política, representatividade estadual e limites das candidaturas “importadas”. Campagnolo enfrentou o bolsonarismo sem medo e foi uma das poucas vozes do campo político a dizer o óbvio: Santa Catarina tem nomes para concorrer ao Senado.
Vanessa Cavallazzi e a força institucional do Ministério Público
No Ministério Público de Santa Catarina, a Procuradora-Geral de Justiça Vanessa Cavallazzi fez história ao se tornar a primeira mulher a comandar a instituição. Sua gestão ganhou destaque pela condução firme de políticas de enfrentamento à violência contra a mulher, além do fortalecimento de ações em defesa dos direitos humanos e da atuação integrada com outras instituições. Mais do que um marco simbólico, sua presença à frente do MPSC representa uma mudança concreta na agenda institucional e no olhar sobre temas historicamente tratados de forma secundária.
Maria do Rocio e o protagonismo feminino no Judiciário
No Judiciário catarinense, a desembargadora Maria do Rocio Luz Santa Ritta protagonizou um movimento relevante ao concorrer à presidência do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, obtendo uma votação expressiva e tornando-se a segunda mulher a disputar o comando da Corte. Sua trajetória é marcada pela defesa do protagonismo feminino no sistema de Justiça. Rocio, em 2024, entrou para a história ao ser a primeira mulher na história a conduzir uma eleição no Tribunal Regional Eleitoral (TRE/SC), reforçando sua imagem de liderança técnica e institucional. Em 2026, terá a oportunidade de fortalecer seu papel abrindo caminhos para ampliar o protagonismo das mulheres no Judiciário estadual.
Luciane Ceretta e a agenda estrutural da Educação
À frente da Secretaria de Estado da Educação, Luciane Ceretta imprimiu uma agenda ambiciosa. Entre os destaques estão a criação de Escola de Formação de Professores e Gestores, voltada para a qualificação permanente dos profissionais da rede estadual de ensino. Sob seu comando, o governo catarinense lançou em 2025 o programa Educação Levada a Sério, o maior pacote de investimentos da história da educação catarinense. O valor total é de R$ 4,1 bilhões, voltado a quatro eixos: Escola Boa, Qualifica SC, Transforma SC e CaTec+. Sua gestão conecta educação, planejamento e visão de longo prazo, um desafio histórico em Santa Catarina.
Júlia Pavan e a estreia feminina no Executivo de Balneário Camboriú
No cenário municipal, a prefeita de Balneário Camboriú, Júlia Pavan (PSD), viveu seu primeiro ano à frente do Executivo como a primeira mulher a ocupar o cargo na cidade. A gestão foi marcada por avanços administrativos, reorganização de áreas estratégicas e pela construção de uma agenda própria, que busca conciliar desenvolvimento urbano, inovação e governança. Sua presença no comando do município mais emblemático do turismo catarinense tem peso simbólico e político relevante.
Paulinha, a reorganização partidária e o debate necessário
A deputada estadual Paulinha (Podemos) destacou-se pela reorganização do partido em Santa Catarina, com a construção de nominatas competitivas para as próximas eleições, além de sua atuação firme no debate de projetos como o que extingue as cotas raciais nas universidades estaduais. Seu posicionamento público e direto trouxe o tema para o centro da agenda política e expôs as contradições de um estado que ainda enfrenta desigualdades históricas profundas.
Outro projeto é o apelidado de “39 Semanas”. Uma proposta legislativa de sua autoria, que visa garantir às gestantes atendidas pelo SUS o direito de escolher a cesariana eletiva a partir da 39ª semana de gestação, com orientação médica, e também o direito à analgesia no parto normal, buscando maior autonomia e humanização, mesmo diante de discussões sobre os riscos e impactos no sistema de saúde.
Rejane Gambin, uma vice protagonista
Em Joinville, a vice-prefeita Rejane Gambin (Novo) se destaca pela atuação competente à frente de iniciativas como o Programa Joinville Mais Bonita, ações na área da Educação e a implementação do método Wolbachia no combate ao Aedes aegypti, garantindo protagonismo e parceria ao lado do prefeito Adriano Silva (Novo). Ela também lidera campanhas permanentes de enfrentamento à violência contra a mulher. Rejane teve neste final de ano reconhecimento nacional, com a citação do jornalista Gustavo Uribe, da CNN, como possível nome para vice do pré-candidato à Presidência Flávio Bolsonaro (PL).
Luciane Carminatti em defesa da Educação na Alesc
Conhecida pela sua atuação na defesa da Educação catarinense, a deputada estadual Luciane Carminatti obteve em 2025 uma conquista histórica para os professores ACTs, com a aprovação do projeto de lei que garante o direito de acompanhar filhos doentes ao médico sem desconto salarial e sem perda de vaga. Outra frente foi a mobilização contra o desconto de 14% dos aposentados, considerado pela parlamentar injusto e cruel com educadores que já recebem baixos proventos. A deputada ainda teve papel central no fortalecimento das Procuradorias da Mulher em Santa Catarina.
Mais do que nomes, 2025 evidencia que a presença feminina nos espaços de poder catarinenses deixou de ser apenas exceção simbólica. As mulheres que se destacaram neste período ocuparam posições estratégicas, enfrentaram resistências, pautaram debates difíceis e ajudaram a redesenhar o funcionamento das instituições. Em um estado ainda marcado por desigualdades de representação, seus movimentos ajudam a apontar caminhos possíveis para uma política mais plural e conectada com a realidade da sociedade.







