O relógio corre contra os produtores brasileiros de alho. No dia 3 de outubro vence a medida antidumping que, desde 1996, protege a produção nacional da concorrência desleal da China.

O futuro do alho
Sem essa barreira, o produto chinês pode entrar no Brasil até 40% mais barato do que o custo de produção interno, inviabilizando a atividade para milhares de agricultores. Santa Catarina, que responde por uma fatia expressiva da produção nacional, está no centro dessa disputa.
A evolução da produção
De 2000 a 2023, a produção brasileira de alho mais que dobrou: de 84 mil para quase 185 mil toneladas. Ganhos de produtividade, inovação e tecnologia transformaram o setor. Mas, nem assim, a concorrência com o alho chinês — subsidiado e vendido abaixo do custo — deixa de ser desigual.
O peso do dumping
Parece promoção, mas é armadilha: sem essa proteção, o quilo do alho chinês chega ao Brasil por até R$ 9,00, enquanto o custo de produção nacional é de R$ 14,00. Ou seja, estamos falando de um produto que entra R$ 5,00 abaixo do custo de produção. Fácil adivinhar quem fica com a conta: o agricultor brasileiro, que não consegue cobrir sequer o custo operacional.
Santa Catarina em jogo
Fraiburgo, Curitibanos e Frei Rogério são referências na produção catarinense, que deve alcançar quase 8 mil toneladas na próxima safra. Aqui, como em boa parte do Brasil, a base produtiva é a agricultura familiar. Se a medida cair, o impacto não será só nas lavouras: atingirá diretamente o comércio local, o transporte, o emprego e a renda de municípios inteiros.
Safra no Chão
E aqui vai o alerta: a safra catarinense já está plantada. Hoje, o antidumping garante o valor de 7,8 dólares por caixa. O que os produtores pedem é, no mínimo, manter esse patamar. Só que a China pressiona para reduzir ainda mais esse valor. Se o governo não renovar a medida, o reflexo não será só no futuro distante — será imediato, na safra que já está no chão.
Efeito dominó no campo e no mercado
Sem antidumping, o agricultor quebra hoje, planta menos amanhã e, no ano seguinte, o consumidor paga mais caro. É o roteiro já visto em outros setores: primeiro, o dumping derruba a concorrência; depois, o monopólio dita preços e condições.
Peregrinação em Brasília
É aí que entra Rafael Corsino, presidente da ANAPA (Associação Nacional dos Produtores de Alho), que virou quase um peregrino de Brasília. Corsino não pede privilégios, pede apenas jogo limpo. O recado que ele tem repetido é simples: “não queremos ajuda, queremos competição justa”. É uma luta para sensibilizar governo federal, Congresso e sociedade de que, se os produtores brasileiros saírem do jogo, o monopólio chinês vai ditar o preço da pizza, do macarrão e até do arroz com feijão.
A decisão que vale uma safra
O governo federal tem até 3 de outubro para decidir. Não renovar o antidumping significa empurrar para o abismo mais de 300 mil famílias ligadas à cadeia do alho. Significa também arriscar a autonomia do país na produção de um alimento básico.
Alho barato demais pode sair muito caro
A decisão sobre o antidumping não é burocrática, é estratégica: envolve soberania alimentar, proteção da agricultura familiar e a sobrevivência do agro em estados como Santa Catarina. Sem a medida, o futuro do alho brasileiro — e de quem vive dele — pode ser arrancado, literalmente pela raiz.