Tem gente que fala. E tem gente que diz alguma coisa. Na política, isso faz toda a diferença.
Falar, todo mundo fala. Tem fala em discurso, fala em vídeo, fala em post. Mas dizer alguma coisa é quando a comunicação faz sentido, se encaixa num conjunto maior, ajuda as pessoas a entenderem o mundo a partir dali. A isso, a gente chama de narrativa.
E não, narrativa não é só contar historinha bonitinha com começo, meio e fim. Também não é só emocionar ou fazer o vídeo bombar. Narrativa é quando tudo que se diz, se escreve ou se publica aponta na mesma direção. Quando há um eixo que organiza a fala de um candidato, de um mandato, de uma campanha.
Uma boa narrativa tem três partes simples: mostra de onde viemos, onde estamos e para onde queremos ir. Ela ajuda a identificar um problema, aponta um caminho e convida as pessoas a se engajar nessa jornada. É isso que faz com que um conteúdo seja mais do que um conteúdo. Vire um projeto.
Quer ver? Quando alguém diz “a culpa é da casta”, está apresentando uma explicação para o que está errado, oferecendo um vilão, e ao mesmo tempo dizendo “eu sou o contrário disso”. Quando aparece o “defender os nossos valores”, ou o “ao lado do povo”, o que se está fazendo é construir um grupo de identificação, um pertencimento. A narrativa, nesse caso, organiza o sentimento.
Tudo isso está em disputa. Porque no fim das contas, a política é isso: uma disputa de sentido. Todo mundo está tentando fazer com que as pessoas vejam o mundo a partir do seu ponto de vista. Cada frase, cada símbolo, cada gesto faz parte dessa construção.
E não precisa estar em um discurso inteiro. Às vezes está num tweet. Num gesto de campanha. Num silêncio. A narrativa dá coerência. E a coerência gera confiança. E é a confiança que move o voto.
Essa reflexão nasceu depois de uma aula que assisti na Universidad de Buenos Aires, ministrada por Julieta Weisgold. Uma aula que não trouxe fórmulas prontas, mas boas perguntas.






