Conta-se a história de Dario III, o rei persa, que ao receber a devastadora notícia da derrota de seu exército diante de Alexandre, o Grande, optou por uma atitude lamentável: em vez de confrontar a realidade, determinou a morte do mensageiro. Uma tentativa inútil de ocultar seu próprio fracasso.
Nos debates políticos e na esfera pública contemporânea, as redes sociais – ou como são conhecidas, as BIG TECHS – estão constantemente em destaque. São ferramentas indispensáveis na disseminação de ideias, na formação de opiniões e no acesso à informação, porém também são frequentemente utilizadas para manipular narrativas. É crucial enfatizar que são usadas para manipular, mas não são a própria manipulação.
É notório que políticos e partidos, em seus canais oficiais, são responsáveis por menos de 1% da geração de conteúdo. A verdadeira força motriz na criação de narrativas está nas mãos dos cidadãos. Este fato, apesar de óbvio, é compreendido por uma minoria. O poder de moldar e disseminar narrativas reside muito mais nos eleitores do que nos próprios políticos. Esse fenômeno não é uma novidade das redes sociais; elas apenas aceleraram e amplificaram esse processo.
A personalização da comunicação política se tornou a norma, com os líderes políticos no centro das atenções. Contudo, isso resultou em uma obsessão exagerada pelos canais dessas figuras, desviando a atenção do vasto volume de informações compartilhadas pelos canais diretos de cidadãos comuns – seja através de grupos de WhatsApp, seja através das trocas informais entre familiares e amigos. Nesse cenário, as emoções predominam, alimentadas pelo viés de confirmação, interesses individuais e uma desconsideração pela verdade factual. Apesar da existência de agências de checagem de fatos, a maioria das pessoas pouco se importa com a verificação da veracidade das informações, desde que estas confirmem suas próprias crenças.
Não só isso, as redes sociais desempenham um papel crucial ao mobilizar e incentivar as pessoas a se envolverem na política. Porém, essa mobilização nem sempre se traduz em mudanças efetivas na sociedade. Às vezes, as pessoas se sentem engajadas apenas por participarem de debates online. O cerne da questão é que é impossível pensar no acesso ao poder, no processo de renovação política e na construção de novas lideranças sem considerar o papel das redes sociais.
Em última análise, é imperativo enxergar além da superfície e compreender o verdadeiro papel das redes sociais na política. Elas não são meramente plataformas neutras; exercem um impacto ativo na formação da opinião pública e no cenário político como um todo. Reconhecer essa realidade é o primeiro passo para uma análise crítica e esclarecida da democracia contemporânea. Embora necessitem de regulamentações e fiscalizações, não podemos cometer o erro de Dario e matar o mensageiro(as redes).