logo-branco.png

7 de setembro de 2024

Nós da classe média: uma tendência.

Nós da classe média somos o para-choques da luta de classes. Estamos espremidos entre a massa e o capital. Somos um bicho híbrido segundo Joelmir Beting. Nos inserimos nas ocupações e na cultura (com relevo no consumo) por padrões silenciosamente fixados pelo poder e valores dominantes. Ter consciência de pré-conceitos e preconceitos não elide a concretude de uma estrutura social objetiva. De mercado. Capitalista.

Karl Marx dizia isso da pequena burguesia, também Jorge Graciarema e W. Reich entre milhares de críticos dessa máquina de moer carne (Darcy Ribeiro). Ela somente é possível graças aos operadores medianos distribuídos nos setores públicos e privados. Graças a nós. Claro. Heterogêneos formamos o pêndulo entre reacionários e revolucionários, sóciais-democratas e anarquistas, realistas e utópicos, otimistas e pessimistas.

No fundo as diferenças das classes médias não permitem aceitar as implicações grosseiras de Marilena Chauí e Jessé Souza (entre outros) sobre o caráter necessariamente (e unilateralmente) reacionário daqueles setores sociais.

Mas é certo que as classes médias são importantes para a luta social, mas tendem a legitimar a ordem burguesa abjeta do capitalismo. Erros políticos da esquerda de governabilidade e impasses na esquerda acadêmica diante da necessidade de autocrítica radical contribuem para a paralisação cognitiva que embora pensamento. E o avanço das lutas libertárias. Vale a pena olhar o próprio umbigo dos setores corporativos nos quais me situo. O dos juristas.

Juízes. Professores, advogados, auditores, procuradores, etc., oscilam entre espanto com tanta desigualdade, cheio de suspiros cristãos e cinismo indecente e conivente com a barbárie. Mas todos tendem a lutar ferozmente por seus privilégios nas tetas do estado ampliado (sociedade civil mais Estado), com Gramsci.

O sistema judicial e político nos tem como leguleios. Parceiros para legalizar a democracia liberal, mesmo se em plena crise global. A crítica com consequentes ações radicais de confronto, com coragem, é a exceção. A regra é a interlocução circular entre confrades regados com bom vinho e bom pão, incapaz de produzir movimentos sociais.

O próprio recurso esquerda/direita que acalora e impregna de virtudes a ambos na defesa da liberdade e da igualdade, hoje sob posturas polarizadas é mais cacoete retórico e comiserativo que algo organicamente capaz de produzir mudanças sociais mais profundas e profícuos.

Nossa revolução é a do umbigo.

Os colunistas são responsáveis pelo conteúdo de suas publicações e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do site Upiara.

Anúncios da Coluna
Anúncios (365 x 365 area)

Anúncios e chamada para o mailing