Nosso oceano azul é verde: o papel do Brasil na nova economia climática. Por José Baltazar

Artigo de José Baltazar Salgueirinho Osório de Andrade Guerra, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Administração da UniSul, diretor e fundador do Centro de Desenvolvimento Sustentável (Greens) e Fellow do Cambridge Centre for Environment, Energy and Natural Resource Governance (CEENRG), Universidade de Cambridge

O mundo vive, neste momento, a maior transformação econômica desde a Revolução Industrial. A diferença crucial é que, agora, o motor desse crescimento é limpo. A transição energética global avança de forma irreversível, movida por investimentos que, segundo a Agência Internacional de Energia, devem atingir US$ 2,2 trilhões até 2025 em eficiência energética, eletrificação e fontes renováveis. Estamos no limiar da “Era Verde”, um novo paradigma que redefine mercados, cadeias de valor e políticas públicas em escala planetária.

O Brasil, com uma matriz elétrica majoritariamente renovável e uma abundância de recursos naturais estratégicos, encontra-se diante de uma oportunidade histórica: assumir o protagonismo mundial da economia limpa. Para transformar esse potencial em liderança efetiva, precisamos de visão estratégica, planejamento integrado e alianças robustas entre governo, setor privado, academia e sociedade civil.

A realização da COP-30, em Belém (PA), simbolizou esse ponto de inflexão. E Santa Catarina marcou presença em debates fundamentais. Tive a honra de participar do painel “Portos Net Zero: Desafios e Caminhos para a Descarbonização no Brasil”, promovido pela Aliança Brasileira para Descarbonização de Portos. Ali, discutimos o papel dos portos como epicentros da transformação energética nacional. Falar de descarbonização portuária é falar do futuro energético, logístico e ético do país.

No horizonte dessa transição, sete frentes tecnológicas redesenham o tabuleiro global: energia renovável 4.0; redes inteligentes e armazenamento avançado; mobilidade elétrica e híbrida; hidrogênio verde e combustíveis sustentáveis; indústria de baixo carbono; bioeconomia; economia circular. Todas convergem para o mesmo propósito: transformar o Brasil em exportador de soluções climáticas, e não apenas de commodities naturais.

Já vemos esse movimento emergir na própria estrutura portuária nacional, que começa a integrar hubs de hidrogênio verde e combustíveis de nova geração, conectando logística e energia de maneira inédita. Essa sinergia reposiciona o Brasil não mais como coadjuvante, mas como protagonista da governança climática dos oceanos, abrindo uma nova rota para a economia azul sustentável.

A descarbonização portuária é, portanto, muito mais que uma meta operacional: é símbolo de uma mudança estrutural. Ao alinhar energia limpa, inovação tecnológica e ética ambiental, o Brasil, e particularmente Santa Catarina, tem a chance de situar-se na vanguarda da transição justa, da economia regenerativa e da diplomacia climática.

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