Antes de tudo um dado histórico: nenhum deputado federal assinou os pedidos de impeachment de Dilma Rousseff (PT) e Fernando Collor (PRN), os dois presidentes da República julgados e condenados pelo Congresso Nacional até hoje. Em ambos os casos, os pedidos tiveram origem em juristas e aos parlamentares coube se posicionar em seu momento constitucional: a hora do voto.
Então o que significa essa sanha de militantes bolsonaristas (e parlamentares militantes bolsonaristas) nas redes sociais para cobrar que os atuais deputados federais assinem o pedido de impeachment contra o presidente Lula (PT) pela declaração em que comparou a morte de civis palestinos na Faixa de Gaza pelo exército de Israel ao holocausto judeu promovido por Hitler na Segunda Guerra Mundial?
É só uma forma de continuar pautando a agenda da política nacional através das redes sociais – como tem sido feito com sucesso desde a ascenção do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao poder, inclusive se mantendo mesmo com a volta do PT ao poder.
É um grande ensaio para a manifestação marcada para domingo na Avenida Paulista, quando o ex-presidente pretende mostrar força política diante das acusações de que tentou promover um golpe de Estado no final de seu mandato presidencial.
Também é uma forma de contranger os parlamentares que se mantém em posições descoladas da polarização nacional entre esquerda e direita – especialmente aqueles que mantém alguma ligação com o governo federal. Qualquer governo.
Na prática, o número de deputados que assina o pedido de impeachment é mais do que irrelevante para depor um presidente. Nem como indicativo serve, porque cria uma lista pública para os articuladores do Planalto trabalharem a virada de voto.
Não é nada na prática, mas é também política.
Essa política dos Anos 20 deste século, feita de muito barulho por nada. Cheia de som e furia, vazia de significado, como escreveu o dramaturgo inglês.
Foto – Plenário da Câmara dos Deputados. Credito: Câmara dos Deputados, Divulgação.