Artigo de Aleixo Antídio Lunelli, deputado estadual

O Brasil é reconhecido no mundo inteiro como uma potência do agronegócio. Temos clima, solo, tecnologia, mão de obra qualificada e produtores que, todos os dias, transformam esforço e conhecimento em alimento, renda e desenvolvimento. Mas, na contramão desse potencial gigantesco, estamos vivendo um quadro preocupante: quem sustenta este país está operando no vermelho.
Em Santa Catarina, produtores de arroz e de leite, duas cadeias essenciais para o abastecimento nacional, enfrentam um dos piores cenários das últimas décadas. São famílias que acordam antes do sol, investem em maquinário, sementes, animais, tecnologia, terra… e ainda assim terminam o mês no prejuízo.
Arroz: produtividade recorde, renda em queda
O Norte catarinense é exemplo de eficiência. Municípios como Massaranduba, Luís Alves e Guaramirim estão entre os campeões nacionais de produtividade, superando 8 toneladas por hectare. Trata-se de um trabalho que combina tradição, pesquisa, tecnologia e dedicação.
Mas de nada adianta bater recordes se, a cada saca vendida, o produtor perde dinheiro. Com preços entre R$ 55 e R$ 60, e custos que ultrapassam R$ 75, não existe gestão que resista. Em regiões onde mais da metade das áreas é arrendada, a pressão é ainda maior.
Produzir mais está significando lucrar menos — e isso é insustentável para qualquer economia.
Leite: um setor em colapso silencioso
No Oeste, especialmente em cidades como Xanxerê, o drama é semelhante. O litro pago ao produtor gira em torno de R$ 2,30, enquanto o custo de produção supera R$ 2,60. A conta não fecha. E quando não fecha, famílias inteiras pagam o preço.
Somente no último ano, 1.548 produtores catarinenses deixaram a atividade. Não estamos diante apenas de um ciclo ruim: estamos diante de uma ameaça real à sobrevivência de um dos setores que mais geram emprego no campo.
E não se pode falar de crise sem citar o principal agravante: a enxurrada de importações de leite muito mais barato e sem as exigências sanitárias, tributárias e ambientais impostas ao produtor brasileiro. Isso não é livre mercado. Isso é concorrência desleal — e tem arruinado a renda de quem produz aqui.
Enquanto isso, nossos agricultores enfrentam juros elevados, insumos que dobraram de preço, combustíveis caros, energia pesada e uma carga emocional que ninguém contabiliza, mas todos sentem.
Como convencer jovens a permanecer no campo se veem seus pais trabalhando 365 dias por ano e ainda assim acumulando prejuízos?
As nações fortes protegem sua economia — e o Brasil precisa seguir esse caminho
É importante lembrar: todos os países fortes do mundo adotam políticas claras de valorização da produção interna.
Basta olhar para os Estados Unidos, que hoje subsidiam, regulam, protegem e estimulam seu produtor rural com uma série de instrumentos inteligentes. Não se trata de fechar o mercado — trata-se de ser estratégico. De entender que a produção nacional é segurança alimentar, geração de empregos, estabilidade econômica e influência global.
O Brasil precisa seguir essa lógica: não de forma protecionista e isolada, mas com inteligência e estratégia, garantindo condições reais de competitividade para quem produz aqui.
Afinal, não existe país forte com agricultura fraca. Não existe economia robusta que abandone seu produtor à própria sorte. O campo gera emprego, movimenta cidades inteiras, fortalece a indústria, mantém estradas, estimula comércio, paga impostos. O campo é a coluna vertebral do Brasil que trabalha. É por isso que defender o produtor rural é defender desenvolvimento, competitividade, soberania e futuro.
Temos tudo para sermos líderes globais em produção de alimentos, agregação de valor e inovação no agro. Mas esse potencial só se concretiza com políticas públicas que deem segurança, previsibilidade e condições reais de trabalho ao produtor.
Não se trata de um pedido de socorro. Trata-se de estratégia nacional.






