Artigo de Irene Minikovski, empresária do setor de saúde

Chegamos ao fim de outubro com a cor rosa-choque colorindo hospitais, postos de saúde, paradas de ônibus, e os mais variados espaços públicos. Desde o início da década de 1990, o mundo para no décimo mês do ano para alertar sobre o câncer de mama. Com o perdão do trocadilho, é o choque anual de realidade, de amor, de vida.
Mesmo assim, os indicadores brasileiros são vergonhosos. Apenas 23,7% do público-alvo faz mamografia regularmente, segundo dados do Observatório de Oncologia do Movimento Todos Juntos Contra o Câncer. Ocorre que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que ao menos 70% seja examinada.
Os índices denotam preocupação porque o diagnóstico inicial é determinante para a sobrevivência, como demonstra a Organização Pan-Americana da Saúde. De acordo com a OMS, uma em cada cinco pessoas desenvolverá algum tipo de câncer ao longo da vida e uma em cada nove homens e uma a cada doze mulheres morrerá por causa da doença.
São números frios que se somam a outras tristes estatísticas. Talvez por serem tão difundidos, as pessoas deixem de se sensibilizarem. Adoecer parece distante. É preciso relembrar sempre que por trás de cada dado há histórias e relatos comoventes como o das mulheres da minha família. Minha mãe, minha irmã e eu fomos diagnosticadas com o câncer de mama.
Descobri a minha doença por causa de um exame preventivo que quase adiei. “Há tanto para fazer, por que perderei meu tempo examinando algo que nem tenho?”, pensei. Estava enganada. Se realmente tivesse deixado para depois, talvez jamais pudesse escrever este artigo. A mamografia me salvou.
Ao longo do tratamento, descobrimos mutação no gene BRCA1 em várias mulheres da nossa linhagem. Foi estarrecedor! Mas após o susto inicial, lemos a situação como alerta coletivo. A partir daí, fizemos testes genéticos, iniciando uma corrente de cuidado, amor e, sobretudo, coragem.
Minha mãe, também diagnosticada com o câncer de mama, se curou. Minha irmã caçula está em tratamento e logo fará as cirurgias. Temos muita esperança de que se recupere. E esperança fundamentada porque ela recebeu o diagnóstico na etapa inicial.
A profilaxia também é essencial. Minha irmã do meio retirou as mamas, ovários e trompas, assim como Angelina Jolie. Exemplos com os delas quebram tabus e ensinam a importância do rastreamento genético.
Sem a mutação, minha irmã mais velha faz os exames com regularidade. A prevenção é importante para todas. Afinal, mesmo sem o gene alterado, é possível desenvolver o tumor.
Curada, olho para as nossas histórias com gratidão. E me sinto obrigada a alertar outras pessoas. Cuide-se. Não espere, não acredite que acontece “só com os outros”. A mamografia é um ato de amor por você mesma e por quem te ama. A prevenção salva vidas, sou prova disso.






