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8 de setembro de 2024

“O catarinense não quer mais fazer o trabalho bruto” diz vice-presidente da FCDL

Em entrevista exclusiva, o vice-presidente de Assuntos Políticos e Institucionais da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de Santa Catarina, José Manoel Ramos, fala sobre expansão das atividades da organização, relata prioridades para o ano, mostra otimismo em relação a negócios e explica   porque há falta de mão de obra.

Qual é a sua avaliação do cenário econômico para este ano?

Enxergamos otimismo com consciência das dificuldades. Os comerciantes sempre reclamam, mas temos esperança, e acreditamos em um bom ano. Há cautela. Grande preocupação e com os efeitos que virão da aprovação da reforma tributária. O comércio e os serviços poderão, mais uma vez, serem prejudicados e, no médio prazo, pagar a conta.

Agora há a questão da polêmica em torno da reoneração de tributos sobre 17 setores econômicos.

Exato. O governo sempre vai procurar mais receitas e precisamos estar atentos.

Recentemente, foi criada a Frente Parlamentar do Varejo na Assembleia Legislativa de Santa Catarina.

Sim. E temos algumas pautas. Estamos concentrados na questão da isenção de cobrança de impostos federais sobre produtos importados de até 50 dólares. Não somos contra a isenção. Só queremos isonomia. Que os produtos nacionais, custando até 50 dólares, também deixem de ser taxados pelo governo federal. Uma vitória foi o consenso em reunião do Conselho de Política Fazendária, o Confaz, determinando a cobrança de ICMS sobre estes itens importados, em todos os Estados.

Combater o lobby dos grandes grupos de varejo global…

Isso mesmo. As plataformas digitais chinesas são muito fortes. E atuam junto ao Congresso. O varejo brasileiro pode reduzir preços se os produtos nacionais também receberem essa isenção. Certamente será uma batalha bem longa. Fecomercio SC e FCDL-SC estão unidas nesta questão. Dispostas a brigar até onde for possível.

E em Santa Catarina, qual é o ponto de atenção?

Aqui temos uma relação muito boa com a Assembleia Legislativa e com o Executivo. Há um projeto de lei que onera mais o comércio.

Qual é o tamanho da atuação da federação e o que deve ser feito para ampliar esse trabalho?

Estamos em busca de parcerias para capacitação e expansão das câmaras setoriais. Temos 209 CDLs espalhadas pelo Estado, e mais 25 núcleos em cidades menores, onde não comporta ainda a criação de uma CDL. No total são 44 mil CNPJs vinculados e associados a todas as CDLs.

O acesso do associado a informações e base de dados se dá como?

A Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de Santa Catarina e base operadora e comercial do SPC Brasil, que nos atende no processamento tecnológico. Em 2021 migramos integralmente para lá. Isso simplifica porque o comerciante pode fazer as consultas diretamente ao SPC Brasil.

Estamos em ano eleitoral. Como influi nos negócios?

Enxergamos um cenário positivo. As eleições influenciam positivamente. Costuma haver maior circulação de dinheiro.

O nível de inadimplência preocupa?

O programa “Desenrola” auxiliou, mas foi voltado aos bancos, atendeu clientes com dívidas junto a instituições financeiras. Precisaria ir além, vir para o comércio em geral, que tem muita capilaridade. Também devemos observar que muitas redes de varejo terceirizam a área financeira. E muita gente faz compras com cartão de crédito.

A qualidade da mão de obra e um gargalo também para o comércio?

Sinceramente, tem um apagão de mão de obra. E não apenas no setor de tecnologia, muito falado. Isso e geral. Em várias regiões não há gente para trabalhar no chão de fábrica.

O desemprego pequeno no Estado ajuda o comércio?

O maior problema nem e o desemprego, em patamar pequeno, o menor do País. O maior problema e o desalentado, aquela pessoa que perdeu o interesse em procurar emprego e recebe dinheiro, mensalmente, por conta de programas de benefícios sociais do governo.

O senhor falou em apagão de mão de obra. Onde isso se percebe mais?

A capacitação, o grau de educação formal, e fundamental na busca por empregos melhores. A dificuldade de encontrar trabalhadores, de quaisquer níveis, se generalizou pelo Estado.

A que o senhor atribui isso?

No litoral e proximidades, se não fossem os migrantes do Norte e Nordeste do Brasil para cá, teríamos ainda mais problemas. As empresas de Santa Catarina estão buscando trabalhadores de diferentes lugares. No Oeste, por exemplo, milhares de venezuelanos trabalham em agroindústrias. E em outros serviços.

Isso tem alguma explicação razoável?

Vou fazer uma comparação provavelmente um pouco exagerada, mas que dá a ideia geral. Santa Catarina está vivendo uma situação semelhante com a dos Estados Unidos e Canada. Lá, os latino-americanos fazem o trabalho que os nativos não querem fazer. Aqui em Santa Catarina está parecido: o catarinense não quer mais fazer o serviço bruto.

O mandato da atual diretoria da FCDL vai até quando?

E o José Manoel Ramos será candidato a presidente?

O atual mandato vai até 2025.

Não tenho essa ambição.

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