Artigo de Giovana Mondardo (PCdoB), vereadora em Criciúma

200 anos da relação Brasil e Estados Unidos anteveem uma carta de Donald Trump ao Brasil. Desdobramento de uma força tarefa de Eduardo Bolsonaro e seus asseclas em busca de livrar o pai da prisão emitente depois da tentativa de golpe de estado em 8/1 de 2023.
O derretimento evidente do unipolarismo norte-americano tem desencadeado um conjunto de movimentos no mundo: intervenções nocivas e genocidas dos EUA na Palestina, financiando armas a Israel e interferindo na relação com o Irã de maneira desleal e descumprindo acordos internacionais. A presença central do desencadeamento do conflito Ucrânia x Russia, tendo a OTHAN não cumprido compromissos e avançado em territórios a ponto de ameaçar a segurança russa. A imposição recente de tarifas sobre países considerados irrelevantes do ponto de vista econômico internacional (40% Laos, 25% Malásia) mas também àqueles que ameaçam sua estratégia imperialista, como a China, que experimenta tarifas em torno de 40 a 50%, nesse momento.
O que vemos é uma disputa de projetos: superar a hegemonia norte-americana como forma de dinamizar a economia, fortalecer outros países e sair da dependência das relações. Isso já têm acontecido. É a China o único país no mundo considerado o principal parceiro econômico de mais de 100 países, como é o do Brasil, por exemplo.
A China tem apresentado ao mundo uma forma diferente de liderar: sem coerção ou submissão, buscando vias de relacionamento que popularizem o modelo chinês, que enfrenta barreiras relacionadas a cultura e língua, ainda como fatores limitantes.
Dito isso, a questão internacional toma outra rota quando, sem justificativa econômica justa — porquê é o Brasil quem experimenta o déficit na relação com os EUA, não o contrário (chegando a quase 4 bilhões de dólares) —fica clara a tentativa de romper as relações históricas dos dois países por desarranjo ideológico.
Quanto valem 200 anos de relações sólidas, mesmo em tempos de divergências políticas e ideológicas dos presidentes de ambos países, serem ameaçadas a partir de um grupo político brasileiro que engendra há meses punições ao próprio país?
Em Santa Catarina os EUA são o principal parceiro de exportação, seguido da China, da Argentina e do Japão, sendo carnes de aves, carne suína, madeira e obras de madeira, motores elétricos e soja, os principais produtos da relação. São quase US$2 bilhões arrecadados no comércio com o país. É possível prever o cancelamento de cargas para os EUA nos próximos dias, prejudicando arrecadação, empregos e causando descontrole no mercado.
Vale questionar: qual a opinião dos deputados federais e estaduais de Santa Catarina sobre o momento político que prejudica econômicamente o estado mas que, acima de tudo, demonstra a tácita tentativa de intervir no Brasil, desrespeitando nossa forma e autonomia de constituir as próprias regras e organização?O representante do povo brasileiro e catarinense que não se posicionar diante destes ataques a soberania nacional, merece desprezo.
A resposta dada com firmeza e altivez pelo governo representa a necessidade estratégica de aplicar a reciprocidade econômica, pressionando e abrindo espaço para negociar e arrefecer os ânimos. Num segundo momento, deve representar a maior oportunidade para poder traduzir ao Brasil sua própria identidade e defesa: há tempo e espaço pra um novo Brasil. Havemos de superar.