Artigo de Edinei Gustavo Haas Führ

Santa Catarina passou a ser palco de um movimento político que desafia sua identidade representativa. A menos de um ano das eleições federais (quando o estado escolherá dois senadores), ganha força a tentativa de impor o nome de Carlos Bolsonaro, vereador carioca e filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, como candidato ao Senado aqui por Santa Catarina.
A presença de Carlos no estado, ao lado da deputada Caroline de Toni, vem acirrando tensões dentro do PL catarinense. O conflito, que já envolvia Carol De Toni e Ana Campagnholo, que manifestou publicamente apoio à correligionária catarinense em detrimento do carioca, ganhou novos contornos após a recente troca de farpas entre Campagnholo e o senador Jorge Seif. Ao sair em defesa de Carlos, Seif adotou um tom agressivo, chegando a atacar professores e gerar forte repercussão negativa no estado. Um desgaste desnecessário que expõe fraturas internas e coloca em xeque o discurso de unidade do bolsonarismo catarinense.
Para além das rusgas, o problema central persiste: a tentativa de “importar” um candidato que não tem vínculo com as realidades locais. Santa Catarina sempre formou seus próprios líderes, conhecedores de suas regiões e
comprometidos com o desenvolvimento do estado. Nomes como Konder Reis, Casildo Maldaner, Vilson Kleinubing, Atilio Fontana, Hercílio Luz, Nereu Ramos, Luiz Henrique da Silveira, Esperidião Amin, dentre outros, construíram legado justamente por sua ligação orgânica com o território e com seu povo.
O movimento atual, contudo, aponta para um caminho perigoso: transformar o estado em vitrine eleitoral para projetos pessoais de poder, sustentados por sobrenomes e símbolos, mas sem enraizamento real. Quando
prefeitos e lideranças se deixam seduzir por candidaturas externas, o que se compromete não é apenas a disputa de 2026, é o próprio sentido de representatividade catarinense.
O eleitor de Santa Catarina está, mais uma vez, à prova. Candidato, Carlos Bolsonaro poderá até ser, mas eleito, só será se o povo aceitar esse desrespeito à história política do estado. Precisamos de vozes firmes, enraizadas e capazes de defender nossos agricultores, cooperativas, infraestrutura e desafios regionais, não aventureiros embalados por marketing e polêmicas vazias.
Cabe ao eleitor decidir quem realmente fala por Santa Catarina e quem apenas fala em nome dela.






