O “fora da lei” e o “cuidador”: quando reputações colidem

Todo mundo já deu seu pitaco nesta “crise” — ou seria marola? — envolvendo a saída do secretário de Assistência Social da Prefeitura de Florianópolis. Então, vou me limitar a tratar do episódio dentro da minha área de atuação: comunicação, imagem e reputação.

Como bem comentou Marcelo Natale na coluna “Quando duas comunidades digitais colidem”, aqui mesmo no portal Upiara.net, estamos falando de dois políticos — Bruno e Topázio — que construíram suas próprias comunidades.

Os discursos, ainda que pontualmente se aproximem, são muito diferentes na essência.E o que isso tem a ver com reputação? Como repito sempre por aqui, reputação não se constrói do dia para a noite. E nesse caso, tanto Bruno quanto Topázio têm trajetórias bem distintas.

Bruno Souza firmou sua imagem com uma comunicação agressiva que, ainda assim, encontra ressonância entre seus apoiadores. Já o prefeito Topázio Neto adotou o caminho oposto.Topázio é do diálogo. Sua comunidade, formada em tempo relativamente curto, se acostumou com conteúdos leves, com foco em prestação de serviços, bom humor e temas que geram identificação com o cotidiano do cidadão comum. Seu público é amplo e difuso. Seu perfil é o de um cuidador, se estivéssemos analisando arquétipos.

Já Bruno, em contraste, está mais próximo do arquétipo do fora da lei — alguém que desafia regras e rompe com a harmonia institucional. Mas deixo a confirmação aos especialistas em branding.

O resultado dessa dissonância é visível: para quem acompanha o estilo de comunicação de Topázio, a entrada de Bruno no colegiado soava como temporária desde o início. Pode ter sido um experimento para enfrentar os desafios da assistência social no município ou uma concessão política.

Difícil saber.

O que fica evidente, ao menos para mim, é que há muito tempo não se via um desalinhamento tão claro entre a comunicação do prefeito e de um secretário. Em contrapartida, também ficou mais nítido que Topázio precisa fazer um certo esforço para se encaixar no figurino da extrema-direita — ainda que tenha se aliado a um governador bolsonarista.

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