Esta história me foi contada pelo advogado Imar Rocha, ex-prefeito de Caçador e ex-procurador geral do Estado de Santa Catarina.
Ela se passou em Irineópolis, no Planalto Norte de Santa Catarina. Antes de montar a Tríplice Aliança (uma coligação entre MDB, PFL e PSDB), e aliar-se a família Bornhausen, o falecido governador Luiz Henrique se referia a cidade como Valões, o nome antigo do lugar.
Irineópolis foi uma homenagem ao governador Irineu Bornhausen, pai do também governador Jorge Bornhausen.
Imar Rocha, apesar de hoje estar no PSB e ter disputado a Prefeitura por este partido, é o que pode ser chamado de um emedebista raiz. Entrou no MDB na década de 1970 para combater a ditadura militar.
Advogado militante, foi bom de discurso, no tempo que as pessoas ainda ouviam discursos de políticos.
Em 1974 disputou uma vaga na Assembleia Legislativa de Santa Catarina. Não conseguiu a eleição, mas assistiu a essa cena hilária, que sempre conta nas rodas de política.
Noite de domingo, comício do MDB no salão da igreja, no centro da pequena cidade. Ambiente lotado, para ouvir os oradores que se apinhavam no palanque.
Lá estavam figuras históricas da política catarinense, como Evilázio Vieira, o Lazinho, que depois acabou sendo eleito senador. Também estava o médico Jaison Barreto, deputado federal, senador e candidato a governador derrotado por Amin, em 1982, e Luiz Henrique da Silveira, que disputava sua primeira eleição para deputado federal e ao longo do tempo acabou governador do Estado e morreu como senador.
Quando Lazinho fazia seu discurso defendendo a democracia, o padre da paróquia, um imigrante europeu, gritou do meio da plateia, com um sotaque muito carregado.
-“Eu querer falar um palavra”.
Lazinho empolgou-se ainda mais e mandou que abrissem passagem para que o padre chegasse até o microfone e soltou o verbo:
– Venha, padre. Venha juntar-se a esse movimento pela volta da democracia. Venha juntar-se a nós nessa luta pelo povo brasileiro. Não podemos mais viver sob uma ditadura militar e o apoio da igreja é muito importante para a nossa vitória.
O padre pegou o microfone e começou a falar no seu sotaque carregado de imigrante europeu:
– Tenho aqui ouvido muitas palavras contra a ditadura militar. Só gente dizendo que os militares não prestam. Que os militares tem de deixar o poder. Mas ninguém disse até agora o que os militares fizeram de bom pelo Brasil, como o Funrural, por exemplo.
Nem acabou de terminar a palavra Funrural (um fundo para o trabalhador rural criado em 1971 e extinto com a Constituição de 1988) e o comício ficou no escuro.
A luz foi apagada completamente e o microfone desligado.
Minutos depois, quando a luz e o som voltaram, Lazinho pegou a palavra novamente e seguiu seu discurso empolgado em defesa da democracia.
Já quanto ao padre, havia sumido do comício.
Arte em destaque: Galvão Bertazzi.