O diagnóstico da CNA é direto: o Brasil emperra nas estradas que fazem o agro girar. As vias vicinais são o primeiro elo da cadeia — onde tudo começa —, mas seguem ignoradas nas planilhas de orçamento.
Santa Catarina, um dos estados mais produtivos do país, que exporta tecnologia e eficiência, mas que também ainda depende e perde em produtividade, diante de estradas de terra sem drenagem e com pontes improvisadas.

Enquanto isso, parlamentares como Daniela Reinehr tentam segurar as pontas em outra frente — a das decisões federais que ameaçam setores produtivos inteiros, como a bananicultura.
Entre a poeira das estradas e o risco das importações, o recado é o mesmo: o Brasil precisa ouvir quem está no campo, antes que o campo pare de ouvir o Brasil.
Estradas abandonadas que custam caro
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) lançou nesta quarta-feira (8) um alerta de grande impacto: mais de 80% das estradas vicinais brasileiras estão fora dos padrões adequados de trafegabilidade.
O dado integra o estudo “Panorama das Estradas Vicinais no Brasil”, realizado em parceria com o grupo Esalq-Log/USP, e escancara uma realidade que o produtor rural conhece há muito tempo — o abandono das rotas rurais que ligam o campo ao país.
Prioritárias e viáveis
Segundo o levantamento, o Brasil perde R$ 16,2 bilhões por ano em custos operacionais com combustível, manutenção e perdas de insumos por conta da precariedade das estradas rurais. Enquanto isso, seriam necessários R$ 4,9 bilhões anuais para adequar 177 mil quilômetros de vias prioritárias — investimento que, além de viável, é considerado estratégico pela CNA.
“A realidade das nossas estradas vicinais está aqui, essas estradas de terra que são fundamentais para o agro e para o acesso à saúde e à educação no meio rural. Se não tratarmos esse assunto como prioridade, a agricultura pode travar o Brasil”, afirmou Thiago Guilherme Péra, coordenador do Esalq-Log/USP.
O peso do descaso
O estudo mostra que o país tem 2,2 milhões de quilômetros de estradas vicinais, distribuídas em 557 microrregiões. Deste total, 84,5% não comportam tráfego nos dois sentidos. Setores como grãos, cana e produção animal são os mais afetados pela falta de estrutura.
O resultado é óbvio: o escoamento encarece, a competitividade despenca e o país perde eficiência logística.
A assessora técnica da CNA, Elisangela Pereira Lopes, destacou que o investimento proposto “não é apenas viável, é estratégico”, já que representa menos de um terço do prejuízo anual causado pelas más condições.
Além de ganhos econômicos, o estudo aponta que a melhoria das vias poderia reduzir em 1 milhão de toneladas as emissões anuais de CO₂, mostrando que infraestrutura rural também é pauta ambiental.
O retrato de Santa Catarina
Em Santa Catarina, o cenário reforça o alerta nacional. O estado tem 76 mil quilômetros de estradas vicinais, sendo 15 mil quilômetros de estradas terciárias — e nada menos que 11 das 20 microrregiões catarinenses estão classificadas como prioritárias.
A força da produção animal, especialmente de aves e suínos, é determinante: regiões como Chapecó, Concórdia, Joaçaba e Xanxerê aparecem entre as mais estratégicas do país. Chapecó é a segunda microrregião mais relevante do Brasil no segmento, enquanto Concórdia desponta como o principal polo estadual.
O estudo também destaca a relevância de Campos de Lajes, São Joaquim, Tubarão e Canoinhas, pela produção de frutas, madeira e lavouras temporárias.
O custo estimado para adequar e manter a malha catarinense em padrão adequado ultrapassa R$ 1,1 bilhão por ano, com a microrregião de Campos de Lajes liderando as demandas de investimento.
Banana sob ameaça

Dep. Daniela Reinehr (Imagem: divulgação)
Enquanto o campo enfrenta lama e buracos, o risco agora vem de fora. A deputada federal Daniela Reinehr (PL-SC) intensificou a defesa dos produtores de banana após a decisão do Ministério da Agricultura de autorizar a importação de banana do Equador — medida vista pelo setor como desnecessária e perigosa.
Em vídeo publicado nas suas redes, Daniela alertou para o risco de entrada de pragas e doenças inexistentes no Brasil, combatidas com defensivos proibidos aqui. “Essa importação pode colocar em perigo toda a produção nacional e ameaçar o sustento de milhares de famílias brasileiras”, afirmou.
Titular da Comissão de Agricultura da Câmara, a parlamentar atuou também para convocar o ministro Carlos Fávaro e apresentou requerimentos pedindo a suspensão imediata da autorização, lembrando que o Brasil é autossuficiente e exportador da fruta.
Em Santa Catarina, segundo a Epagri/Cepa, a bananicultura ocupa 28,8 mil hectares e movimenta R$ 1,1 bilhão por safra, envolvendo 4 mil famílias. O estado é o segundo em produtividade e líder nas exportações nacionais, com destaque para Luiz Alves, Massaranduba, Corupá, Garuva e Jacinto Machado.