Rafael Hahne escreve artigo sobre resposta da Prefeitura de Florianópolis aos impactos das chuvas extremas em janeiro, destacando ações emergenciais, recuperação, planejamento preventivo e iniciativas sustentáveis para mitigar futuros eventos climáticos.
Os eventos climáticos extremos demonstram que é inevitável enfrentar desafios em três momentos críticos: no atendimento emergencial durante o acontecimento, na pronta resposta e recuperação logo após e no planejamento de ações para reduzir os efeitos de futuras ocorrências. As lições aprendidas em situações de emergência precisam ser assimiladas e aplicadas de maneira efetiva, garantindo que tragédias semelhantes resultem em prejuízos de menor impacto.
Entre os dias 16 e 17 de janeiro, Florianópolis e diversos municípios do litoral catarinense enfrentaram uma situação excepcionalmente crítica. O volume de chuvas registrado foi o dobro da média histórica prevista para o mês, alcançando uma intensidade não vista desde 1995. Diante desse cenário, a Prefeitura de Florianópolis mobilizou, ainda durante o período de chuvas, uma força-tarefa integrada por diferentes órgãos municipais, como a Defesa Civil, Guarda Municipal, Secretaria de Meio Ambiente, Assistência Social, Fundação Somar, Infraestrutura e Manutenção da Cidade. Essas ações contaram com o apoio essencial do Governo do Estado, principalmente representado pela Casan, Secretaria de Infraestrutura e Polícia Militar.
Já no sábado, com um dia ensolarado, foi iniciado um grande mutirão envolvendo mais de 200 colaboradores, que, mesmo exaustos pela atuação durante o período das chuvas, dedicaram-se à limpeza das ruas, remoção de resíduos volumosos, recuperação do pavimento das vias estruturantes e restauração dos sistemas de drenagem. Em algumas áreas, os sinais de alagamentos e deslizamentos foram completamente eliminados. Em outras, equipes técnicas de engenharia seguem avaliando as intervenções necessárias e os recursos necessários para a recuperação total.
As marcas deixadas por esse evento reforçam a importância de identificar as regiões onde os investimentos em infraestrutura já apresentaram avanços na redução dos impactos. Obras estruturantes, como projetos de macrodrenagem e contenção de encostas, têm se mostrado eficazes para reduzir danos e evitar maiores sofrimentos. Por isso, além de ampliar a implementação de macrodrenagem para outras regiões, a Prefeitura planeja um programa de manutenção contínua das redes de drenagem pluvial. A limpeza e o desassoreamento de canais e valas, realizados regularmente, já demonstraram ser estratégias fundamentais para a eficiência do sistema, que operou bem mesmo sob forte pressão.
No que diz respeito à contenção de encostas, Florianópolis segue como referência nacional, com a atualização do Plano Municipal de Redução de Riscos coordenado pela Defesa Civil. Essa iniciativa, baseada em estudos técnicos preliminares, orienta as soluções mais adequadas para prevenir deslizamentos e proteger a população.
Outra importante frente de atuação tem sido a adoção do conceito de “cidade-esponja”, já aplicado em projetos como o da Rua Ângelo Pecini, no Campeche, que sofria com alagamentos recorrentes. A construção de caixas de infiltração permitiu que a água da chuva fosse absorvida diretamente pelo solo, reduzindo alagamentos e contribuindo para a recarga dos aquíferos. Apesar de eficaz em áreas específicas, como Rio Vermelho, algumas regiões do Campeche e Ingleses, esse conceito enfrenta limitações em regiões de morros ou próximas ao mar, onde o lençol freático é muito alto, especialmente em áreas baixas como Daniela, Jurerê e Canasvieiras.
A colaboração da população também tem um papel essencial na mitigação de alagamentos. A destinação correta de resíduos e a redução da impermeabilização dos terrenos são práticas que diminuem significativamente os impactos durante chuvas intensas. A implantação de jardins, áreas permeáveis e sistemas de reaproveitamento de água da chuva em edifícios são medidas que aliviam a pressão sobre o sistema público de drenagem e contribuem para a sustentabilidade urbana.
Diante dos desafios impostos pelas mudanças climáticas, a Prefeitura de Florianópolis, sob a liderança do prefeito Topázio Neto, iniciará, nos próximos dias, um extenso programa de revisão das redes de drenagem, incluindo o desassoreamento de tubulações, a desobstrução de galerias e a limpeza dos grandes canais. Todas essas medidas são fundamentais para garantir a normalidade do escoamento das águas em eventos futuros.
Com essas iniciativas, Florianópolis reforça seu compromisso com a resiliência e a preparação para enfrentar situações adversas. As lições aprendidas neste evento precisam ser amplamente compartilhadas, aprendidas em sua essência e, principalmente, colocadas em prática, assegurando que a cidade esteja cada vez mais preparada para os desafios impostos pelos extremos climáticos.
Rafael Hahne é secretário de Infraestrutura e Manutenção de Florianópolis