O que são vinhas velhas – e por que elas fazem vinhos incríveis?


Se você já viu por aí algum rótulo que orgulhosamente estampa a expressão “vinhas velhas” e ficou na dúvida se isso é bom ou ruim, hoje é o dia de resolver essa questão.

Apesar de o termo não ter uma regulamentação oficial na maioria dos países (ou seja, cada produtor pode usar com um pouco de liberdade), o conceito de vinhas velhas carrega consigo bastante respeito entre enófilos. E não é à toa.

Na prática, estamos falando de vinhedos mais antigos, em geral com 30, 50 ou até 100 anos, que ao longo do tempo reduziram drasticamente sua produtividade. Este ano degustei os três excelentes rótulos da linha Alto do Joa, produzidos no norte de Portugal a partir de vinhas velhas com mais de 120 anos.

Enquanto videiras jovens entregam quantidade, as velhas se concentram em qualidade. Elas produzem menos cachos, com uvas mais concentradas em sabor, acidez e estrutura. É como se todo o esforço da planta se resumisse em poucos, porém poderosos, frutos.

E por que tudo isso importa? Porque o vinho que nasce dessas uvas tende a ser mais intenso, mais profundo e com maior capacidade de envelhecimento. Pense como um molho de tomate bem reduzido: menos volume, mais sabor.

Mas atenção: nem todo vinho de vinhas velhas será automaticamente melhor. É preciso considerar também o terroir, o manejo do vinhedo, a variedade da uva e, claro, o trabalho na vinícola. Aliás, alguns produtores preferem nem mencionar “vinhas velhas” no rótulo, deixando que o vinho fale por si só.

É o caso de um dos meus preferidos nesta categoria, que deixo aqui como sugestão: El Recio, da vinícola Matsu (Toro, Espanha), feito com a uva tempranillo (que eles chamam de tinta de Toro) proveniente de vinhedos de 90 anos. 

Temos vinhas velhas em Santa Catarina?

E em Santa Catarina, onde a produção de vinhos finos é ainda mais recente, um rótulo chama a atenção: o Vinhas Velhas Cabernet Sauvignon (2020) da vinícola Quinta da Neve. Produzido a partir de videiras plantadas em 1999, as primeiras da região da Lomba Seca, em São Joaquim, esse vinho mostra que o conceito de “vinha velha” precisa ser entendido dentro do contexto local.

Embora 21 anos possa parecer pouco em termos internacionais, no contexto brasileiro, especialmente em Santa Catarina, essas vinhas são consideradas antigas e representam um marco histórico na vitivinicultura local.

Provei este rótulo este ano e encontrei um vinho potente, com notas de frutas negras, especiarias e um toque elegante de madeira, graças ao estágio de 12 meses em carvalho francês. Um verdadeiro exemplo de como o tempo pode enriquecer a taça, mesmo em regiões jovens.

Como identificar esses vinhos? 

A expressão “old vines”, “vieilles vignes”, ou simplesmente “vinhas velhas” pode aparecer nos rótulos, especialmente de regiões tradicionais da França, Espanha e Portugal — que têm vinhedos centenários ainda em produção. Mas a melhor forma de descobrir é lendo a ficha técnica do vinho no site do produtor. Ou ainda, pedindo aquela ajudinha ao seu sommelier favorito.

Na próxima vez que encontrar essa expressão, lembre-se: há ali, na taça, uma história longa e muitas vezes silenciosa de uma videira que resistiu ao tempo, às pragas, às podas e às estações — e que ainda assim continua dando frutos. Isso, por si só, já merece um brinde.

Tim Tim!

Beatriz Cavenaghi é jornalista, doutora em Gestão do Conhecimento pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e sommelière pela Associação Brasileira de Sommeliers (ABS-SC). @beacavenaghi no Instagram

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