
As redes sociais têm um apelo tentador: ali você pode ser o dono da verdade, o profeta da sua timeline, o juiz supremo das reputações. Um poder e tanto — e sedutor demais para resistir. Ver seu tweet viralizar é quase viciante: ego lá nas alturas, sensação de que o mundo desacelera à espera da sua opinião. E os “ativistas de Twitter”, ah, esses são uma categoria à parte: estão prontos para julgar até a cor da sua meia. Mas já pensou se todo esse veneno despejado contra os outros resolvesse um dia voltar contra você? Spoiler: acontece, e rápido.
Confesso que já caí nessa armadilha. Anos atrás, me divertia sendo uma espécie de “ombudsman de internet”, lançando comentários afiados e (quase) certeiros. Naquela época, os tweets tinham míseros 140 caracteres, o que dava uma chance para pensar melhor, ou pelo menos ensaiar uma desculpa esfarrapada depois. Mesmo assim, criei problemas desnecessários. Aprendi da pior forma que ouvir é muito mais poderoso que falar, especialmente em poucos caracteres ou menos.
O assassinato do ativista americano Charles Kirk foi tema quente nas redes neste fim de semana – e junto vieram cancelamentos em série, comentários inapropriados e julgamentos às pressas. Não vou participar do bate-boca, porque já tem gente demais nessa arena. Mas esse episódio é o exemplo perfeito do poder (e do perigo) da palavra nas redes sociais. No calor da emoção, uma frase mal colocada, uma opinião não fundamentada, pode gerar um incêndio que nem o melhor bombeiro consegue apagar (aproveitando, já se inscreveu para o curso Apagando Incêndios – Como gerenciar crises e proteger a sua reputação?).
E aqui vai uma dica que parece óbvia, mas não é: prints são eternos. Não adianta deletar, negar ou fingir que não foi você. O mundo digital tem memória de elefante e pouca paciência para arrependimentos. Então, antes de dar aquele enter afobado, pergunte-se: afeta alguém? Ajuda alguém? Ou só alimenta a fogueira do cancelamento, da desinformação e da polarização?
O episódio envolvendo a situação do ativista americano reforça, de maneira dura, o quanto o poder da palavra nas redes sociais precisa ser manejado com extrema cautela. É um alerta para todos nós sobre os riscos do impulso de falar antes de pensar, especialmente em momentos carregados de emoção.
Este episódio nos mostra também que assumir a função de “ombudsman das redes sociais” é um trabalho de alto risco: moderar opiniões, julgar comportamentos e distribuir verdades alheias pode, facilmente, comprometer a sua própria reputação. Nas redes, a linha entre o fiscal e o alvo é tênue e rápida. O aprendizado que fica é simples, mas essencial: cuidado redobrado antes de disparar a próxima crítica, porque, muitas vezes, o dedo pode ser apontado para você.