O stories não é lugar de entulho. É lugar de encontro.

Na comunicação digital, a gente fala muito de atenção. Mas estamos vivendo a era da intimidade. Aquela conexão diária, quase silenciosa, que se estabelece não com quem passa, mas com quem fica. Com quem está ali, vendo tudo, todo dia. E é nesse território, o da frequência, que mora o maior ativo de uma estratégia de comunicação política: a confiança.

Criar presença não é aparecer. É permanecer. E permanecer com relevância.

A gente gasta muito tempo e dinheiro tentando transformar alcance em seguidores. Faz sentido: hoje, os reels são as maiores portas de entrada no Instagram. São os conteúdos que viralizam, que rompem bolhas, que trazem gente nova. E, por isso, viraram a menina dos olhos de políticos e profissionais de comunicação. Está certo. Mas está incompleto.

O reel é o convite. O storie é o café na sala.

É no Stories que se constrói a frequência, a sensação de companhia, o fio invisível que transforma o político em alguém presente na rotina de quem o acompanha. E estamos vivendo um paradoxo: o espaço mais íntimo virou o mais maltratado. Porque ninguém respeita o café de todo dia. Porque o espaço da intimidade virou o depósito da irrelevância.

O stories virou lugar de enfiar tudo o que não se teve coragem de jogar fora. Aquele evento protocolar, a foto com a Dona Maria que visitou o gabinete, a pauta sem graça da semana. “Não vamos postar no feed, mas joga ali nos stories só pra não perder.” Só que a gente está perdendo. Perde-se o vínculo, perde-se a atenção qualificada, perde-se o respeito de quem te acompanha com interesse real.

Todo dia tem político desperdiçando o ponto mais íntimo da sua comunicação com 5 mil, 6 mil pessoas que o seguem fielmente e que estão prontas para ver, ouvir, interagir. Mas o que elas recebem é ruído. O stories não é lugar de entulho. É lugar de encontro.

Se é difícil construir intimidade, não jogue fora esse elo. Não trate como banal o espaço onde a conexão é mais possível. Invista em conteúdo pensado para quem já está com você. Para quem já te escolheu. Porque política se faz com gente. E gente que confia, não se conquista com desleixo.

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