Ada de Luca escreve artigo em que resgasta a história do MDB no Brasil e em Santa Catarina e questiona a postura pragmática adotada em níveis municipal, estadual e federal.

O Movimento Democrático Brasileiro (MDB) tem suas raízes fincadas na história da luta pela democracia no Brasil. Criado em março de 1966, durante a imposição do bipartidarismo pelo regime militar, o MDB surgiu como a “oposição consentida” ao partido governista da época, a Arena. Desde então, tornou-se um importante ator na resistência à ditadura, abrigando políticos comprometidos com valores democráticos e liberais, como a defesa do voto direto, das liberdades civis e do fortalecimento das instituições republicanas.
Nomes como Ulysses Guimarães e Tancredo Neves simbolizaram essa fase heroica do partido, foi dr, Ulysses quem ergueu a bandeira das Diretas Já, desafiando o regime militar e pavimentando o caminho para a redemocratização. O MDB, mesmo sem uma ideologia rigidamente definida, sempre se colocou como um partido comprometido com o desenvolvimento de uma sociedade mais justa, humana e igualitária, compreendendo que a política é o caminho essencial para melhorar a vida das pessoas.
No entanto, a diferença entre o ideal e a realidade nunca foi tão evidente como nos dias de hoje. O partido, que já representou um sopro de esperança para os brasileiros, enfrenta desafios internos que colocam em dúvida sua identidade e propósito. Em muitos casos, a sigla parece ser vista mais como um espaço de articulação política visando se manter no poder, do que como um instrumento de transformação social.
Nos âmbitos municipal, estadual e federal, o MDB parece preferir uma postura marcada pelo pragmatismo, que em algumas situações, resulta em alianças pautadas mais pela conveniência do que pela coerência, não mantendo a social-democracia que sempre pautou o partido. O compromisso com sua trajetória democrática e reformista, por vezes, cede espaço a tomadas de decisões que nem sempre refletem os valores históricos do MDB.
O partido que deveria honrar a memória dos ilustres homens e mulheres que lutaram pela liberdade do país, parece ter esquecido sua própria história. O MDB precisa urgentemente resgatar a sua identidade para conseguir enfrentar todos os desafios em um cenário político onde parece que a democracia esta em constante ameaça.
Tenho orgulho de dizer que há mais de 40 anos faço parte do MDB, ao mesmo tempo me desmotivo ao ver os caminhos que ele vem tomando. São sentimentos que me fazem refletir e perguntar: “Ainda há espaço para um MDB comprometido em honrar aqueles que deram suas vidas por um país melhor ou a sigla está fadada a ser apenas um instrumento governança política?”
Se o MDB quiser continuar relevante e digno de toda a sua trajetória, precisa urgentemente olhar para suas origens e se reconectar com os princípios que o tornaram um dos pilares da democracia brasileira. Caso contrário, será apenas mais um partido sem rosto, sem alma e sem propósito. Por fim, deixo a público mais algumas indagações que venho me fazendo: Onde está o “meu” MDB? Aquele que assisti o nascimento, me fez chorar, sorrir, aprender e crescer. Onde está aquele partido da resistência, da social-democracia? Onde está? Foi aquele PMDB histórico que me ensinou a importância da política para a sociedade, e a nunca desistir. Por isso, estarei sempre na luta.