
Quando o agro fala de clima, o mundo escuta (ou deveria)
A COP30, que começa em Belém, no Pará, no dia 10 de novembro, é mais do que uma conferência: é uma vitrine global para o Brasil mostrar que pode liderar a nova economia verde.
O problema é que o país tem doutorado em perder oportunidades históricas – e, se quiser protagonizar a transição climática, precisará parar de dançar em ritmos diferentes entre governo e setor produtivo.
O mundo chega dividido
Estados Unidos e Argentina não confirmaram presença. O secretário de Clima e Meio Ambiente, Maurício Lyrio, foi direto: “143 países confirmaram presença, mas os EUA e a Argentina, por enquanto, não estão na lista.” Desde o retorno de Donald Trump à Casa Branca, a pauta ambiental saiu do radar americano; e o governo Milei, em Buenos Aires, prefere o discurso de “livre mercado” ao de “livre carbono”.
Enquanto isso, a ministra Marina Silva tenta transformar Belém em um alerta visual para o planeta: “Trazer a COP30 para o coração da Amazônia é denunciar o que não pode acontecer — o ponto de não retorno.”
Santa Catarina na COP: quem produz também preserva
O Estado será representado pela Frente Parlamentar da COP30, instalada na Alesc e liderada pelo deputado Mauro de Nadal (MDB). Foram meses de reuniões em Belém, e encontros regionais em Campos Novos, Jaraguá do Sul, Caçador, São Miguel do Oeste e Criciúma, com produtores, empresários e entidades. O resultado é o documento “SC na COP30 — Quem produz, também preserva”, que defende três pilares:
- Compensação financeira para quem produz e preserva;
 - Incentivos fiscais para energia limpa e renovável;
 - Recursos aos municípios que mantêm áreas verdes e rios limpos.
 
“Vamos a Belém para mostrar resultados e sugestões de políticas que valorizem o setor produtivo. Santa Catarina é exemplo de crescimento com preservação”, afirmou Mauro de Nadal.
Cooperativismo catarinense ganha vitrine global
Santa Catarina terá quatro cooperativas entre as 48 brasileiras selecionadas pelo Sistema OCB para apresentar cases de sustentabilidade na COP30 — uma de forma presencial e três em exposição digital.
Presencial:
Sicoob São Miguel SC/PR/RS leva o projeto COOPENAD — cooperação que ilumina um futuro sustentável, que transforma dejetos de animais em biogás e fertilizante.
“A COOPENAD nasceu da necessidade local e virou solução para a perenidade das comunidades”, explicou Edemar Fronchetti, presidente do Sicoob.
Digitais:
- Copercampos apresenta “Uma cooperativa sustentável – Ação local, impacto global”, com relatórios anuais de sustentabilidade e inventário de GEE pelo GHG Protocol.
 - Unicred União leva o Projeto Integrado de Energia Renovável, com microusinas solares que abastecem suas 30 agências no Sul.
 - Cresol Evolução exibe o projeto “Tampinhas Solidárias”, que envolve escolas e comunidades na coleta de plástico reciclável, transformando resíduos em recursos sociais.
 
A Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina – OCESC destacou o protagonismo catarinense:
“Esses cases demonstram como o cooperativismo contribui, na prática, para o enfrentamento das mudanças climáticas. É a prova de que desenvolvimento econômico e responsabilidade ambiental caminham juntos”, afirmou Ana Paula Martello, coordenadora técnica do Sistema OCESC.
Referência: a Copérdia também foi finalista nacional com o projeto “Reflorestamento e Uso Sustentável da Madeira”, sobre o uso responsável da biomassa do eucalipto e o aproveitamento integral de resíduos.
Embrapa na COP30: ciência e ação
A Embrapa chega em peso: 400 eventos na AgriZone — um hub de ciência, clima e bioeconomia.
Na sexta-feira, 31, a empresa apresentou aqui em Brasília, o documento “Contribuições da Embrapa para o Mutirão Global contra a Mudança do Clima” ao presidente da COP, embaixador André Corrêa do Lago.
Entre as nove propostas estão:
- criação de métricas regionais para o carbono tropical;
 - incentivo à fixação de carbono e nitrogênio;
 - produtos de baixo carbono com rastreabilidade;
 - estímulo à bioeconomia da biodiversidade;
 - e menos burocracia no crédito verde.
 
“Há dinheiro, mas o acesso ainda é limitado. A previsibilidade dos fluxos financeiros é chave para transformar compromissos em prática”, diz o relatório.
Emprego e renda: o agro continua empurrando o Brasil
Os números do IBGE confirmam: o campo segue puxando a fila da economia.
De acordo com dados divulgados na sexta-feira, 31, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura registrou crescimento de 3,4% no número de trabalhadores, o que representa 260 mil pessoas a mais empregadas em relação ao trimestre anterior.
A renda média dos trabalhadores da agropecuária subiu 6,5% no trimestre, chegando a R$ 2.198, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua.
A massa salarial nacional chegou a R$ 354,6 bilhões, recorde histórico.
Em Santa Catarina, o Novo Caged registrou 95 mil empregos formais até setembro — 11,3 mil só no mês, metade deles ocupados por mulheres jovens (18 a 24 anos).
O Estado tem a menor taxa de desemprego do país (2,5%), e Florianópolis lidera as contratações, superando até sete estados brasileiros.
O agro que preserva e emprega – e o cooperativismo que ensina
Enquanto o Brasil promete “liderar o futuro verde”, Santa Catarina já está nele. As cooperativas catarinenses não esperaram financiamento internacional nem discursos de cúpula — fizeram a própria transição: energia limpa, reflorestamento, economia circular, crédito sustentável.
A OCESC e as cooperativas mostram o que o país inteiro diz querer: um agro que preserva, uma indústria que compensa e uma economia que respira.
Num país que ainda tropeça em burocracias e slogans, Santa Catarina prova que sustentabilidade não é discurso – é prática diária. E se o Brasil quiser liderar a transição verde, talvez precise apenas olhar um pouco mais para o que o seu próprio Sul já faz.
Na COP30, o Brasil leva slides. Santa Catarina leva exemplos.
															
								
								




