O Sapiens Parque nasceu com o objetivo de ser um polo de inovação que unisse governo, universidades, empresas e sociedade civil. Hoje, às vésperas das comemorações do aniversário de 23 anos, abriga 128 empresas e gera 3.500 empregos diretos.
“A inovação tem o poder de mudar a matriz econômica, de realmente transformar uma cidade, um estado, e quem souber usar isso vai se destacar no futuro, vai estar à frente nessa corrida”, afirma o presidente Eduardo Vieira.
Os dois acionistas são o governo do Estado e a Invest, a antiga SCPar, responsável pela atração de investimentos. “A Siri, que é comando de voz, foi feita em Stanford, com recurso público, o GPS foi desenvolvido com dinheiro público fomentando as empresas de tecnologia. O governo tem que apoiar essas empresas, isso muda o jogo. O governo dos Estados Unidos foi muito habilidoso nisso”, afirma Eduardo.
Na entrevista de domingo, o engenheiro mecânico de 34 anos fala sobre o reposicionamento estratégico do Sapiens, que inclui um projeto urbanístico e um investimento hoteleiro português de R$ 150 milhões – e dos principais desafios para o desenvolvimento da inovação em Santa Catarina.

Em 2023 foi anunciado um reposicionamento estratégico do Sapiens. O que está sendo feito?
Esse trabalho está em andamento. Fizemos uma licitação e contratamos a consultoria da Ernst & Young, que está nos apoiando na estruturação desse trabalho para repensar o Sapiens, que vai continuar sendo o epicentro do desenvolvimento de tecnologia. Mas como a gente desenvolve essa área nos melhores modelos mundiais? Olhando para o caso do Vale do Silício, o caso do 22@, na Espanha, a inovação em Singapura etc. Olhando para o que tem dado certo, mantendo o foco em ciência, tecnologia e inovação, mas estruturando-o de forma sustentável. A consultoria busca equilibrar os dois lados do projeto — o papel público de fomento à inovação e a necessidade de geração de receita para sustentar o parque. O reposicionamento deve ser finalizado até agosto de 2026. Atualmente, estamos concluindo a primeira fase, de diagnóstico. A segunda etapa envolve o plano de negócios e o masterplan urbanístico, em parceria com o escritório Jaime Lerner, de Curitiba, referência mundial em urbanismo.
É a ideia de consolidar a “cidade inteligente” dentro da cidade de Florianópolis?
Exatamente. Essa é a visão do governador Jorginho Mello. O Sapiens continua sendo um parque tecnológico, mas deve ser também uma cidade viva — com pessoas morando, circulando, se divertindo. O centro do projeto são as pessoas. Trouxemos, por exemplo, o Passeio Sapiens, com espaços de lazer e convivência abertos ao público, mas integrados ao ambiente de inovação. Está dentro desse conceito que a gente está desenvolvendo agora: cidade para pessoas, mas sem perder o espírito de empreendedorismo e inovação.
Quais os projetos que vem sendo tratados com a prefeitura de Florianópolis para desenvolvimento da região Norte da Ilha?
A prefeitura é fundamental para o desenvolvimento do Sapiens. Tivemos recentemente uma reunião com a Secretaria da Casa Civil do município para alinhar prioridades. vai patinar.O projeto é do governo do estado, é o detentor, é o acionista, mas ele impacta mais a cidade do que o estado como um todo. Primeiro, ele vai impactar a cidade para depois impactar o estado. Estamos falando de geração de ISS, pagamento de IPTU, geração de empregos qualificados, qualificação do turismo. Isso impacta a cidade inteira. Eles têm que estar conscientes, porque tudo que a gente faz aqui passa por aprovação da prefeitura. Tudo o que fazemos passa por aprovações municipais — desde o projeto urbanístico até questões ambientais e de publicidade. Um dos projetos em pauta é a construção de uma via arterial que margeia o parque pela zona leste, ligando a rodovia Luís Boiteux Piazza à SC-403. Essa obra destravaria novos empreendimentos, facilitaria a mobilidade e atrairia mais investimentos para a região. Outro tema é o hotel da rede portuguesa Vila Galé, cujo edital foi lançado recentemente. A rede foi a única interessada e venceu a licitação com um investimento mínimo de R$ 150 milhões. Eles devem apresentar o projeto em até 90 dias para aprovação do Sapiens e, em seguida, da prefeitura. A previsão é que a construção leve menos de dois anos.
Quais são hoje os principais desafios para a inovação em Santa Catarina?
O primeiro é acompanhar o ritmo acelerado da inovação. O poder público tem mais burocracia e, muitas vezes, perde o timing do investidor. Quando surge uma oportunidade, é preciso agir rápido — e esse é um ponto em que ainda precisamos evoluir. Outro desafio é a continuidade. Projetos estruturantes, como o Sapiens, levam décadas para amadurecer. É essencial que sejam tratados como políticas de Estado, e não de governo, para evitar descontinuidades a cada troca de gestão. Felizmente, hoje vivemos um momento de forte alinhamento entre o governo estadual e a prefeitura.
O que é decisivo para atrair empresas e investidores para o Sapiens?
Dois fatores principais: incentivos fiscais e mão de obra qualificada. Os investidores querem saber que tipo de apoio o Estado oferece, mas também se encontrarão profissionais capacitados para seus projetos. Nesse sentido, o Sapiens tem um diferencial: parcerias sólidas com universidades como a UFSC e instituições de ensino técnico, o que fortalece a formação de talentos e torna o ambiente mais atrativo para empresas de tecnologia e inovação.
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