Peru, drones, soja e tilápia: O agro entrou em dezembro disputando espaço, voz e respeito em Brasília

O cheiro de Natal chega com sabor de ave assada – mas quem conhece o agro sabe que o protagonista das festas é também uma das cadeias mais reguladas e monitoradas do país.

Santa Catarina, segundo maior exportador de carne do Brasil, também é referência nacional na produção de perus natalinos, especialmente na região Oeste, responsável por cerca de 30% da oferta nacional.

A produção avança com vigilância reforçada: o Estado mantém-se como “livre de influenza aviária de alta patogenicidade”, em meio ao aumento dos alertas globais.

Já no campo da soja, o governo federal flexibilizou o calendário de plantio em SC por meio da Portaria nº 66/2025, reconhecendo as condições climáticas adversas de 2023.

E Brasília, como sempre, ferve: Marina Silva foi convocada pelo Senado e pela Câmara para explicar sua ausência e as diretrizes sobre espécies exóticas – como a tilápia.

No meio do redemoinho, resta lembrar que o agro sustenta o Brasil e cobra mais respeito.

Peru com gosto de SC

O Brasil produz cerca de 40 milhões de perus por ano – boa parte com destino à ceia de Natal, ao mercado europeu e ao consumo institucional. Santa Catarina responde por 30% da produção nacional, com destaque para os municípios de Chapecó, Concórdia e Seara.

Estima-se que a região Oeste produza cerca de 1,5 milhão de aves natalinas ao ano.

Estado livre de influenza aviária

A presidente da CIDASC – Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina -, Celles Regina de Mattos, reforçou o status sanitário do Estado e detalhou ações conjuntas com o IMA – Instituto do Meio Ambiente.

Entre as medidas do plano de contingência estão o uso de drones de monitoramento aéreo, vistorias diárias em granjas e articulação interestadual.

O objetivo é manter Santa Catarina como referência nacional em sanidade animal e garantir a estabilidade das exportações.

Portaria flexibiliza plantio de soja em SC

A Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA), vinculada ao Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), publicou a Portaria nº 66/2025, que autoriza o plantio excepcional de soja em áreas catarinenses, mesmo fora do calendário do vazio sanitário.

O secretário de Estado da Agricultura e Pecuária, Carlos Chiodini, destaca que a portaria reforça o equilíbrio entre segurança sanitária e desenvolvimento da cadeia produtiva.

“Santa Catarina precisa estar preparada para responder aos desafios climáticos e, ao mesmo tempo, manter a competitividade da nossa soja. Esta portaria garante regras claras e seguras, permitindo que pesquisa, inovação e produção avancem sem comprometer o controle da ferrugem asiática e a sustentabilidade do setor”, destaca.

A CIDASC é responsável pela análise de solicitações e autorização dos plantios excepcionais, fora desses prazos, como por exemplo, em situação de pesquisa e ensino, para produção de sementes, plantio e produção de grãos, unidades demonstrativas em eventos e feiras agropecuárias.

O que é o vazio sanitário?

É o período em que não se pode cultivar nem manter plantas vivas de soja no campo, como forma de quebrar o ciclo da ferrugem asiática, principal doença da cultura.

A exceção se aplica a agricultores que comprovarem inviabilidade climática durante o período regular.

Marina convocada: tilápia e omissão ambiental no alvo

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Marina Silva, foi convocada pela Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) do Senado na quarta-feira (4), após recusar o convite anterior para explicar a política sobre espécies exóticas invasoras.

O tema central será a tilápia, espécie mais cultivada da aquicultura brasileira, mas considerada “invasora” por segmentos do governo.

Na Câmara, a convocação também foi aprovada por deputados da FPA – Frente Parlamentar da Agropecuária. Segundo o deputado Rodolfo Nogueira (PL-MS), “não se trata apenas de tilápia, mas de toda uma estratégia que criminaliza a produção brasileira”.

Não confundam silêncio com passividade

Enquanto o setor produtivo enfrenta clima instável, fiscalizações severas e indefinições regulatórias, o governo federal parece mais preocupado com narrativas do que com medidas efetivas.

Convocar ministros que não dialogam é o mínimo. Reconhecer a realidade do campo e dos perus, da soja, da tilápia – é obrigação.

O agro brasileiro pode até ser resiliente, mas não é bobo. Dezembro começou e a ceia do campo exige mais que promessas.

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